Compaixão1

Fátima Flórido

Resumo:

É relatado o caso de Maria, uma jovem de 19 anos, que se queixa de "tédio", "falta de sentido na vida", "sentimento de vazio" e que estabelece com os outros (especialmente com a mãe) "relações distantes, frias ou detonadoras" (palavras da paciente).

Os poetas, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Machado de Assis, etc., filmes, "cores de Almodóvar", "cores de Frida Kahlo", músicas de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e outros tantos "objetos de cultura" nos quais ela se vê refletida, vêm "acompanhando" Maria no percurso de sua "zona de calmarias" (Winnicott) - que vez por outra se transmuta em inferno.

Na experiência com Maria, a analista revê sua própria adolescência. Nesse sentido, é possível pensar no que Fédida coloca a respeito da contratransferência - esta se constituindo enquanto continuação da análise pessoal: "com o analista estando pronto a receber a palavra do paciente como interpretações do seu próprio recalcado" (Fédida).

Compaixão2

Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma
barata - cresce de importância para o meu olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar para
baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades
machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar da coisinhas
do chão -
Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas. (Barros, 1998; p. 27)

Julho

Tudo começou com um texto de Françoise Dolto onde ela fala de compaixão3 .... Comecei a pensar em virtudes...

Maria! Maria!

...Tudo começou com a chegada de Maria. Ou melhor, eu que cheguei até ela. Anti-virtuosa, anjo às avessas. "Não sou simpática. Não sou amorosa. Por que você gosta de mim?" Outra vez: "Por que você gosta tanto de mim?" (Mas eu adivinho o gozo da interrogação e isso (it) já me recompensa).

Porque Maria é daquelas moças, anti-boa moça, anti-Patricinha, que mal consegue sustentar um sorriso. Rosto crispado de angústias que não se disfarçam. E se existem esforços para disfarçar... Ah! Em vão! Mas não pensem que tenho aqui a virtude do amor ao feio e ao torto e ao impuro. Maria é meu anjo torto, é verdade (um dia me falara de um quadro - que gosta muito - de anjos distorcidos. Você anjo

distorcido; você que disfarça sua bondade). Quando olho Maria (com todos os meus olhos, com tudo que é possível ser visto por mim), enxergo / suspeito / a beleza / a potência que é (in) visível em Maria encoberta, as forças, a beleza de turbulências e trevas.

Para mim Maria é encantadora; e tem o encanto - não de almas fáceis - mas dessas subjetividades aflitas, "vida a vida", "móvel-mar"... O encanto vem dali onde acredito na saída, na crença de que a crise é caminho/passagem para a não permanência no mesmo. Eu carrego a esperança que Maria mal experimenta e me alegro tanto. O encanto vem dali onde nossas juventudes se entrelaçam. Nossos dezenove anos, sua juventude transviada, minha juventude quase transviada. Perdições, paz que não vem de graça, de quando se nasce e pronto. Minha adolescência veloz comparece e sua adolescência grita de dor:

"Dezenove anos. Não fiz nada! Tudo errado: má aluna, má filha, má amiga. Só revolta, uma fome permanente de 'detonar'"

E os livros que tanto lê? As músicas? Às formas ela se rebela. Qualquer forma aprisiona? Ódio às formas e depois o vazio! Por que não tem valor aos olhos de Maria a matéria informe dos livros, poesias, devaneios? Os sonhos não são capital. "O que vale ser sensível? Meus amigos gays, amigos loucos, drogados: Não há salvação!".

(Calma, garota! e eu tenho que controlar-me para não devorá-la com cuidados e esperança e lembranças. Vai dar tudo certo, alguém já me falou um dia e eu tento silenciar).

Não sei o tamanho da angústia de Maria. Deve ser grande, porque a dor já se mostra no rosto. As "esquisitices internas" já se fazem visíveis, nos gestos impensados, nas respostas atravessadas, nas interrupções de conversas. E sempre uma tentativa de sorriso, um esboço que não vinga, que não se sustenta. Maria. Maria só dor. (Cuidado, vê se não a atropela com sua alegria! Calma garota, calma eu!).

Gosta muito de Clarice (Lispector) (aqui na cidade é verdadeira raridade: uma menina com tais interesses!). As anti-heroínas claricianas, Joana, Sofia e Maria podia ser mais uma. Dei-lhe, com muita hesitação, temendo invadi-la, um livro de minha adolescência: "Aprendizagem ou livro dos prazeres". Para minha surpresa, Maria ficou bastante contente...

Envolve-me de perguntas: Você acredita em Deus? Você acredita em Deus? Em busca da fé. "Ora sou rebelde, ora visto uma saia de seda nas bodas4 de minha mãe. Cada hora sou de um jeito". (Mas, garota onde te ensinaram que nós somos apenas um?).

Às voltas com sua indiferença. "Sou má". Sua mãe infeliz chora a juventude perdida, chora ouvindo Roberto Carlos, chora os mortos, os doentes, os infelizes. "Eu sou insensível".

A indiferença de Maria será a indiferença oculta de vulcões? Ou será mesmo a indiferença o "berçário da compaixão?".

Ajude-me a não atropelá-la com meus dezenove anos. Vamos aprender juntas a "esperar o sentido", a "habitar o vazio..." (Fédida). Um tempo/espaço vazio, compartimento vizinho do ódio (ódio ao preconceito, à formas não autênticas de vida. Quando qualquer concessão a máscaras pode significar a morte).

Que eu sobreviva à indiferença e ao ódio de Maria!

Que o mundo sobreviva....

Que Deus que Maria tanto procura.

Foi então que chegou de outro tempo (de minha própria adolescência) a lembrança de Abraxas... Esse Deus serviria para Maria?

Tudo começou...

Abraxas

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus. E o deus se chama Abraxas" (Hesse, 1968; p. 91).

Meus encontros com Maria me remetem à minha própria adolescência, muito mais que qualquer outra adolescente que até hoje eu tenha atendido. Lembrei-me então de Hesse, autor que Maria não conhece. Lembrei-me de Abraxas, um deus que talvez comovesse Maria.

A melancolia de sua mãe deita-se como uma sombra em cima de sua vida. Assim repudia o bom e o piedoso, que identifica na figura materna. Abomina as sensibilidades piegas. Hard! Punk! Adora "Tarantino" (Quentin). "Eu sou feita de lama imunda" (Felinto, 1992; p. 55). Busca destruir o "mundo luminoso", e apropriar-se da

maldade (agressividade): "minha maldade vem do mau acomodamento da alma no corpo. Ela é apertada, falta-lhe espaço interior" (Lispector, 1978; p. ), que sua mãe varreu pra baixo do tapete da vida e mais e mais quem sabe, as gerações que antecederam a mãe e sua própria tristeza. Destruir (até) os mundos de seus ancestrais5. O mundo escuro é onde se refugia com amigos dilacerados. Mundo das drogas (eventuais?!) e dos bares sujos. "A feiúra é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio como um amor de igual para igual. E desafio a morte" (Lispector, 1973; p. 40). Chora num show de Marisa Monte assim como sua mãe chora com Roberto Carlos.

"Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto.
...
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem..." (Adriana Calcanhoto).

Renato russo, Cazuza, Clarice, Pessoa, Fernanda Young, Arnaldo Antunes, Machado de Assis... "Beleza de escuras" (Lispector).

Mas no mundo dos sensíveis não haverá lugar para a alegria?

Foi assim que lembrei dos dois mundos entre os quais, Sinclair, o jovem amigo de Demian, vivia:

Dois mundos diversos ali se confundiam; o dia e a noite pareciam provir de pólos distintos.

Desses dois mundos, um se reduzia á casa paterna, e nem mesmo a abarcava toda; na verdade, compreendia apenas as pessoas de meus pais. Esse mundo era-me perfeitamente conhecido em sua maior parte; suas principais palavras eram papai e mamãe, amor e severidade, exemplo e educação. Seus atributos eram a luz, a claridade, a limpeza. As palavras carinhosas, as mãos lavadas, as roupas limpas e os bons costumes nele tinham centro. Nele se cantavam os coros matutinos e se festejava o Natal. Nesse mundo havia linhas retas e caminhos que conduziam diretamente ao porvir; havia o dever e a culpa, o remorso e a confissão, o perdão e as boas intenções, o amor e a veneração, os versículos da Bíblia e a sabedoria. Nesse mundo devia-se permanecer para que a vida fosse clara e limpa, bela e ordenada.

O outro mundo começava - curioso - em meio à nossa própria casa, mas era completamente diferente: tinha outro odor, falava de maneira diversa, prometia e exigia outras coisas. Nesse segundo universo havia criadas e aprendizes, histórias de fantasmas e rumores de escândalo; havia um onda multiforme de coisas monstruosas, atraentes, terríveis e enigmáticas, coisas como matadouro e a prisão, homens embriagados e mulheres escandalosas, vacas que pariam e cavalos que tombavam ao solo; histórias de roubos, assassinatos e suicídios. À nossa volta havia todas essas coisas belas e espantosas, selvagens e cruéis; na rua ao lado, no interior da casa vizinha, policiais perseguiam ladrões; homens embriagados batiam em suas esposas; grupos de moças saíam das fábricas ao anoitecer; havia velhas que enfeitiçavam as pessoas ou lhes causavam desditas; no bosque se ocultava um bando de salteadores; os guardas florestais perseguiam ladrões e incendiários... enfim, por todo lado brotava e fluía esse outro mundo impetuoso, em todo lado menos em nossos aposentos, ali onde estavam meu pai e minha mãe. E isso era magnífico. Era maravilhoso que ali em casa houvesse paz, ordem, repouso, deveres cumpridos e consciência tranqüila, perdão e amor...; mas era também admirável que existisse aquilo tudo mais: o estrepitoso e o agudo, o sombrio e o violento, de que se podia escapar imediatamente, refugiando-se quase de um salto no regaço maternal. (Hesse, 1968; p. 9-10).

Maria não quer uma "bondade fácil". Até porque não pode, já que não tolera falsas soluções. Apresenta uma "moralidade feroz" (Winnicott). Busca criar, em cima do que destrói: "A destrutividade, diz Winnicott, embora compulsiva e enganadora, é mais honesta que a construtividade, quando esta última não está fundada no sentimento de culpa decorrente da aceitação dos impulsos destrutivos pessoais" (Winnicott, 1995; p. 150).

Foi por isso que pensei em Abraxas, o deus de Demian e Sinclair, que reunia em si o mundo luminoso e o mundo escuro: "divindade dotada da função simbólica de reunir em si o divino e o demoníaco" (Hesse, 1968; p. 93).

Na verdade, o que quero dizer com isso é que para Maria "construir" (ela assim se queixa, que nada faz, nada cria) teria/tem que acolher em si sua própria destrutividade. Ela não tolera deuses piegas. Que fé procura?

(A busca da esperança). Mas para chegar ao "Deus da bondade pura" precisa atravessar o inferno de sua própria maldade e mesmo de seus não-sentimentos. Para ela não há a facilidade da piedade e se existe um caminho de comunicação com o outro este só pode desembocar/desabrochar na compaixão. Quando assusta/aterroriza sua mãe com sua parte maldita é para ser aceita em sua totalidade (como diz Winnicott, se "vocês pais deram o melhor para seus filhos, devem aceitar que ele se encontre em sua totalidade, e não apenas em seus aspectos construtivos").

Rebelde como sua mãe fora um dia e depois nevermore. A rebeldia em sua mãe transformou-se em amargura: um sentimento de não existência, de infelicidade. Adeus à sensualidade. "Todo aquele que expurga sua parte maldita assina a própria sentença de morte" (Baudrillard, 1990; p. 36).

Amor impiedoso, a destruição fazendo parte do amor. Por isso Clarice: Maria que podia ser Sofia, que podia ser Joana, as anti-heroínas com sua "paixão pelo mal", com seu "exercício de crueldade" (Rosenbaum, 1999), que precisam destruir mundos (mundos luminosos? Do bom gosto!) para vir à luz.

O mal irrompe como elemento desestruturador que desorganiza forças estabelecidas, que "bagunça radicalmente coretos", que funda alteridades. E eu preciso sobreviver ao seu não-sentimento ou à sua fúria, ou desdém: "hoje eu não tive vontade de ir". "Por que você pergunta "como assim"? Odeio quando fala assim: coisa de psicólogo".

Eu também achei um dia que Abraxas era (naquele tempo) um deus adequado, "criado à minha imagem e semelhança", e precisei atravessar infernos de raivas e indiferenças até chegar a compadecer-me, não por culpa ou piedade.

(Por isso é difícil a comunicação com os colegas de faculdade que com seus discursos sobre o Bem, evitam enunciar o Mal (Baudrillard). Que acham que a agressividade é o lixo do ser). E pior, ela diz, é o não-sentimento. Porque o não sentir conduz ao um (outro tipo) de inferno: o de não existir e não se sentir real. Ela me pergunta: Você conhece aquela música do Arnaldo Antunes que diz:

Socorro, eu não estou sentindo nada

Nem medo, nem calor, nem fogo / Não vai dar mais para chorar, nem para rir / Socorro, alguma alma mesmo que penada / me entregue suas penas / Já não sinto amor, nem dor / já não sinto nada / Socorro, alguém me dê um coração / Que esse já não bate nem apanha / Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa / Qualquer coisa que se sinta ? Tem tanto sentimento / Deve ter alguma que sirva / Socorro, alguma rua que me dê sentido / Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada / Socorro, eu já não sinto mais nada".

A oposição às vezes é o único recurso que se tem para se sentir existindo. Reajo, logo (parece que) eu existo. Mas dura pouco e renovam-se os ataques até que se espere o tempo suficiente de atravessar/transpor a "zona de calmarias" (Winnicott).

Winnicott diz que os adolescentes rejeitam falsas soluções ou "curas imediatas", ao invés, vêem-se obrigados a "transpor uma espécie de zona de calmarias, uma fase em que se sentem fúteis e ainda não se encontraram" (Winnicott, 1993; p. 122). Os pais e a sociedade não podem se apressar, e tentar "curá-lo de sua adolescência".

As necessidades do adolescente (normal) apresentam um padrão que tem relação com os que se manifesta em vários tipos de distúrbio mental:

Adolescente Normal

A necessidade de evitar a falsa solução.
A necessidade de sentir-se real, ou de tolerar a absoluta falta de sentimento.
A necessidade de ser rebelde num contexto que, confiadamente, acolha também a dependência.
A necessidade de aguilhoar repetidamente a sociedade de modo que o antagonismo desta faça-se manifesto, e possa ser rebatido por um contra-antagonismo.
Padrão Patológico

A necessidade de evitar a falsa solução corresponde à incapacidade de o paciente psicótico aceitar o meio-termo; compare-se também com a ambivalência psiconeurótica e com a ilusão e a auto-ilusão de saúde.
A necessidade de sentir-se real ou nada sentir tem relação com a depressão psicótico acompanhada de despersonalização.
A necessidade de desafiar corresponde à tendência anti-social, tal como se manifesta na delinqüência (Winnicott, 1993; pp. 123-124).

Como disse Françoise Dolto referindo-se aos adolescentes, "nem tudo que tende para frente é porque vai cair". Penso que Maria tentou várias soluções, como por exemplo, sua casca áspera e dura, para evitar

O colapso (setembro)

Noites sem dormir. Dias sem fome. Angústia, medo de multidão, falta de ar, medo de... medo de.... e "medo puro". Choro compulsivo sem motivo. Um grande susto: "nunca me aconteceu isso! Não sei porque choro sem motivo". No meio do filme "De olhos bem fechados", pânico. Acho que vou morrer, implora aos pais que a levem ao hospital. Alguém sugere que vá a um psiquiatra, que tome remédio. Ela quer diminuir a dor. Os cuidados da mãe (que está apavorada) a tranqüilizam um pouco. Aos poucos a dor ganha um contorno; a agonia, pensável. Não é mais possível espernear no colo como sempre. Está cansada (como Clarice no vídeo que tanto a emocionou). Teme enlouquecer.

A mãe por sua vez busca desesperadamente oferecer aquilo que Maria necessita.

Como diz Winnicott, "a organização que torna a regressão útil se distingue das outras organizações defensivas pelo fato de carregar consigo a esperança de uma nova oportunidade de descongelamento da situação congelada e de proporcionar ao meio ambiente, isto é, o meio ambiente atual, a chance de fazer uma adaptação adequada, apesar de atrasada" (Winnicott, 1993; p. 466). Penso que Maria está se/nos dando uma chance.

A falência das defesas, das forças falseadas.

- Sei, é ruim segurar minha mão. É ruim ficar sem ar nessa mina desabada para onde eu te trouxe sem piedade por ti, mas por piedade por mim. Mas juro que te tirarei ainda vivo daqui - nem que eu minta, nem que eu minta o que meus olhos viram. Eu te salvarei deste terror onde, por enquanto, eu te preciso. Que piedade agora por ti, a quem me agarrei. Deste-me inocente a mão, e porque eu a segurava é que tive coragem de me afundar. Mas não procures entender-me, faze-me apenas companhia. Sei que tua mão me largaria, se soubesse (Lispector, 1964; p. 94-95).

Numa de suas noites de terror (Por que à noite o pavor? - "O entardecer é o desembocar de todas as ausências") (Felinto, 1992; p. 54) vai com sua grande amiga dormir na casa dos pais num casebre (de chão de terra) e lá recomeça o pânico. A mãe da menina - "gostei tanto dela, eles são simples, sabe" - lhe oferece chá de erva cidreira explicando que é calmante. (Até então falava: "nada me acalma, "olcadil" prá mim é igual a água). Tranqüiliza-se. Agora aonde vai, leva um pacote de chá de erva-cidreira.

Volta e meia fala: "eu quero pouco eu quero o simples. Um dia meu tio perguntou: o que você pedir de aniversário eu compro. Mas eu não quero, quero apenas que você veja algo e pense 'isso parece com Maria'". É o gesto necessário e exato que procura.

Nesse sentido, tenho a impressão que erro bastante, me sinto às vezes "boba", fútil, inexata. É quando, ela muito apropriadamente, "debocha" de mim, de qualquer coisa que "não cheire a verdadeiro"... Equivocada, sou desastrada nos gestos, desperdiçando seu pedido: "O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno" (Lispector, 1994; p. 188) e eu muitas vezes não entendo.

Pede sessões extras. Chega ferida, quase mansa, suas unhas-garras não mais arranham, chora e diz que nunca falou "eu te amo" ou "eu gosto", sabe de sua própria aspereza. Numa tentativa de conviver com o "mundo luminoso" vai a um churrasco com "pessoas normais". O incômodo de conviver não é porque os outros, aqueles do "mundo luminoso", são babacas. Por trás do sentimento de superioridade: "dói porque eles experimentam uma coisa que eu não conheço: felicidade". É como se ela dissesse:

Eu sou humana, cara!

De que você pensa que são feitas as minhas mãos? De ferro? De madeira? De cimento? Elas são feitas de carne, cara. Eu sou humana, cara. Devo gritar isso? Sou humana. Está me ouvindo? Sou humana. Minhas mãos são feitas da carne que dois pregos podem atravessar furando buracos a caminho da madeira da cruz. Minhas mãos são feitas da carne que ejacula sangue, sou humana, cara (Felinto, 1992; p. 62).

O mundo apresentado a Maria foi/é um mundo inóspito, cruel, uma vida sem brilho, onde o desencanto é o único horizonte possível. O processo de desilusão longe de ter sido lento e gradativo, desenvolveu-se veloz e absoluto. Sendo assim, podemos associar o pânico a "um estado psicopatológico que se instaura quando não houve as condições para uma subjetivação tolerável da condição fundamental de desamparo" (Pereira, 1999; p. 370). No plano da articulação simbólica, um ataque de pânico estrutura-se como um pedido transcendente de amor, dirigido a um "Outro idealizado e onipotente, colocado numa posição divina que garantiria pela sua ternura a proteção do sujeito contra o desamparo" (Pereira, 1999; p. 370).

Ela escreve e me dá:

Pânico
Hoje minha respiração parou
momentaneamente
e nos dois segundos em que chorei
por falta de vida
A morte dolorosa que imaginei não aconteceu
Por duas vezes eu perdi o sol
a chuva que caía
perdi a batida lenta do meu
coração
A batida dos carros na esquina
Deixei de ver o momento
e só senti a escuridão
e a escuridão não tem cheiro
de flores
apenas dois segundos
e vinte anos se passaram
Como se não pudesse viver mais vinte anos
e vinte anos de existência
eu perdi durante dois segundos
não sorri com a passagem de menina
não sofri com a falta do menino
não consegui ver da janela
a bicicleta que corria
e os dois segundos se passaram
e eu tive mais dois segundos para
viver.

Mãe pirua - filha trash

Mário Eduardo Costa Pereira adverte ainda que a noção de desamparo não deve deixar de fora a dimensão sexual: a crise de pânico não se dá simplesmente pelo "encontro vazio e abstrato com a dimensão de falta de garantias, mas com a falta de garantias em face das próprias pulsões sexuais e destrutivas: o pânico protege, através do desespero, dos perigos da sexualidade" (1999; p. 274).

Lembro-me aqui que uma das grandes questões/dores da mãe de Maria se liga ao não vivido no plano sexual. Na juventude, linda saindo e vista como puta por sua própria mãe. Depois engorda e lamenta o tempo perdido, o amor não encontrado, o casamento-vazio sem emoções6. A filha, de seu lado, que nunca se apaixonou, que se deita e depois nem lembra que sexo existe.

O morrer-em-vida de sua mãe cai sobre sua vida e Maria se sente sufocada, desaprovada em seu estilo quando a mãe insiste: "coloque um batom. Parece uma mendiga". Ao menos, os anéis, vários, que brilham nos dedos. Único luxo? A mãe que a sufoca com tantos presentes que nunca usará, apenas os anéis. Sua mãe que queria ser "pirua". Fica confusa por causa do ódio - "porque ódio, menino, ódio é fogo" (Felinto, 1992; p. 21) - à mãe, já que esta é tão presente e quer tanto que ela fique bem. Mas não sabe como. (Com carro novo? Roupas? Livros? Anéis).

A busca de Maria em relação à mãe pode ser também compreendida quando lemos Joyce McDougall:

A menina precisa arrancar de sua mãe o direito de ser ela própria, identificando-se com sua mãe em seu mundo psíquico interno, mas também precisa de sua mãe, externamente, como guia, como consoladora e auxiliadora nos anos que se seguem. Após o tumulto da adolescência, período durante o qual a filha tipicamente rejeita a mãe de quase todos os modos, é freqüente que se volte para a mãe com apego renovado ao tornar-se mãe ela própria (McDougall, 1997; p. 13, grifo meu).

Quando perguntei se podia incluir o poema "Pânico" num trabalho, ironicamente me questiona: "Por que? Se você tem a Clarice?".

Flor de cacto, pensei.

Enquanto espera, a companhia da poesia...

"Eu sempre sonho que uma
coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo,
aduba.

O que parece estático, espera" (Prado, 1991; p. 19)

Tem sido na companhia dos poetas, da literatura, de filmes, de alguns poucos amigos (tão perdidos e sensíveis quanto ela) que Maria encontra interlocução. Como diz Safra, o rosto humano não é para ser encontrado apenas na mãe, mas ainda não cultura, no mundo, no social: "Há pacientes que vivem na queda de si mesmo e na queda do mundo. A poesia tem um valor semelhante ao ícone: devolve o rosto humano ao ser humano. É possível encontrar um poeta (como Fernando Pessoa ou Clarice) antes de encontrar alguém como interlocutor. É uma estética que revela o ser" (Safra, palestra 2/10/99).

Gilberto Safra, em seu livro "A face estética do self" enfatiza o estético - o sensorial - "objetos na sua materialidade, e nas suas formas, os corpos, os gestos, as dimensões do mundo - tempos, espaços, sons, cores, movimentos, ritmos - são tratados como as raízes e os ingredientes básicos de processos de constituição do self" (Figueiredo, 1999; p. 11).

O autor ali esclarece que utiliza o termo estético "para abordar o fenômeno pelo qual o indivíduo cria uma forma imagética, sensorial, que veicula sensações de agrado, encanto, temor, horror, etc... Estas imagens, quando atualizadas pela presença de um outro significativo, permitem que a pessoa constitua os fundamentos ou aspectos de seu self, podendo então existir no mundo humano" (1999; p. 20).

Se a linguagem discursiva é tão valorizada no mundo ocidental e na psicanálise, há também uma evolução do objeto sensorial, ao longo do processo maturacional:

Há o objeto subjetivo, que inicia a constituição a constituição do self; o objeto transicional, primeira possessão não-eu; o objeto de self, articulação simbólica de um estilo de ser; o objeto de self na cultura, conectando o sujeito à história do homem; o objeto de self artístico-religioso, apresentando o vértice estético e sagrado e inserindo o homem na atemporalidade da experiência humana (Safra, 1999; p. 30).

Penso que Maria e eu temos trabalhado principalmente em torno de objetos da cultura compartilhados por nós duas - nos quais ela se ancora, dando um uso pessoal (Safra, 1999; p. 22), e dessa forma sendo-lhe possível aos poucos tomar contato com sua capacidade criativa. Lugares-espaços-objetos que amenizam a dor do exílio e lhe dão a sensação de: "pensei que até pode ser que a vida valha a pena". Se, porventura, à mãe não foi possível devolver-lhe um olhar humano, os objetos da cultura a refletem.

Isso é tão urgente, que aquilo que não a reflete é repudiado!

Embora interpretações verbais sejam feitas, esse espaço de encontro se dá muito mais em torno desses objetos. Sendo assim, a sessão se apresenta mais como um "espaço de experiência, do que um lugar de cognição" (Safra, 1999, p. 28). Acredito que neste caso "o objeto material possa ser mais fecundo que a interpretação verbal clássica" (Safra, 1999; p. 29). As interpretações acontecem na verdade, focando aqueles aspectos do self que são refletidos pelo objeto. Os lugares-pessoas-objetos que não a espelham são vividos como não-lugares, espaços de abandono e desamparo.

É assim que Maria e eu nos comunicamos com freqüência em torno do espaço potencial / zona de sonho em que circulam sentidos, objetos compartilhados, livros, textos, discos de Renato Russo, filmes, Adriana Calcanhoto, "cores de Frida Kahlo", "cores de Almodóvar". Um dia conversando sobre o filme "Cria cuervos" comentei que gostava muito da cena em que o pequena Ana dançava uma música, que eu tinha o disco e o havia perdido. Ela me presenteia (!) com a notícia que o Pato Fu (!?) havia gravado a tal música e me oferece uma fita cassete.

São oásis. Brechas num mundo não humano, possibilidades sagradas / preciosas de comunicação.

Ana-Maria-eu na dança da dor da perda do amor / Dança de tempos sobrepostos, almas entrelaçadas: chora-se a morte da mãe/do pai e do amante que partiu ou que um dia quem sabe partirá:

Porque te vas
Hoy en mi ventana brilla el sol
Y el corazón se pone triste contemplando
la ciudad
Porque te vas
Como cada noche desperté pensando en ti
Y en mi reloj todas las horas vi passar
Porque te vas
Todas las promessas de mi amor se irán
contigo
Me olvidaras, me olvidaras
Junto a la estación lloraré igual que un
niño
Porque te vas, porque te vas
Bajo la penumbra de un farol se
dormirán
Todas las cosas que quedaron por decir
se dormirán
Junto a las manillas de um reloj
despejarán
Todas las horas que quedaron por vivir
esperarán (José Luís Perales)

Enfim, Compaixão!

Comecei a escrever sobre Maria pensando em compaixão. Por que?

Suas queixas de indiferença, ou de maldade, ou de uma sensibilidade não voltada para o fácil me fizeram lembrar o caminho de construção de minha própria compaixão. Que não foi fácil: também precisei atravessar desertos de vazios ou vulcões de raivas e desamores. Compaixão que não exclui negativos. Esse texto é também um passeio / re-visitação aos objetos que me fizeram companhia na minha adolescência.

Se podemos falar de virtudes necessárias à clínica, a compaixão será das mais fundamentais? Não aquela que é puro sentimentalismo, piedade, ou compaixão vedante (que Dolto diferencia de compaixão estruturante); mas que se sustenta na identificação com o outro, em sua totalidade (incluindo os aspectos destrutivos): "A compaixão é a simpatia na dor ou na tristeza, em outras palavras, é participar do sentimento do outro" . (Comte-Sponville, 1999; p. 117):

Compartilhar o sofrimento do outro não é aprová-lo nem compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer; é recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente, e um ser vivo, qualquer que seja, como coisa. (Comte-Sponville, 1999; p. 118).

É diferente da piedade que ressalta a insuficiência de seu objeto "a compaixão, é um sentimento horizontal, só tem sentido entre iguais, ou antes, e melhor, ela realiza essa igualdade entre aquele que sofre e aquele (ao lado dele, e portanto, no mesmo plano) que compartilha do seu sofrimento. Nesse sentido, não há piedade sem uma parte de desprezo; não há compaixão sem respeito" (1999; p. 127).

A compaixão liga-se com um "respeito fundante" (não moral) pela singularidade da natureza humana que aí está.

"...ela é o que permite passar de um ao outro, da ordem afetiva à ordem ética, do que sentimos ao que queremos, do que somos ao que devemos. Dir-se-á que o amor também realiza essa passagem. Sem dúvida. Mas o amor não está a nosso alcance, a compaixão sim" (1999; pp. 128-129).

"Compadece-te e faz o que deves" - passa-se assim da ordem do sentimento ao "que devemos". E se pensamos que em relação ao que devemos - em outros tempos / termos - se falaria em técnica, aqui eu pensaria em ética. Não é um dever senti-la (a compaixão), mas desenvolver em si a capacidade de senti-la.

No dizer de Françoise Dolto:

A ética do humano, na medida do seu desenvolvimento, leva-o a identificar-se com todos os seres da criação. A ética não é a moral. A moral é um código de comportamento; a ética sustenta uma intenção na sua mira, ela é o desejo e o sentido que dele decorre. A moral, seja ela aplicada de forma agradável ou desagradável, seja ou não nociva para outrem, provém de pulsões. A ética é assunto do sujeito, a moral é assunto do ego; o sujeito funda-se sobre o simbólico, enquanto que o ego está no imaginário, está a serviço do funcionamento (1989; p. 112).

Essa compaixão-nossa-de-cada dia que não pode ser desencarnada, como o "amor que não é puro sentimentalismo" (Winnicott), que se nutre na própria dor e maldade. Que é tola se não se enraíza na história pessoal (do ódio e do amor). Compaixão resultante do acolhimento dos vários outros de si mesmo. E só assim. É o que diz Françoise Dolto:

"Para "fazer o bem que se deseja", é necessário poder falar de seu desejo de mal. Aliás, é isso que a cultura faz, em seu conjunto. Ela permite satisfações imaginárias (arte, literatura, esporte, ciência) e dá apaziguamento aos desejos, ao mesmo tempo que permite um enriquecimento de trocas na sociedade. Há no ser humano contradições, e todo desejo precisa poder ser falado. Há no ser humano contradições, e todo desejo precisa poder ser falado. Há a realidade, há o imaginário, e também há essa vida simbólica que é o encontro de um outro com quem nos compreendemos, e com quem não estamos mais totalmente sozinhos diante de nossas contradições internas". (1999; p. 169).

Tempo

Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria (Luís de Camões/Renato Russo).

Logo Maria completará vinte anos.

Feliz Aniversário, Maria!

E eu: "Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome" (Prado, 1991, p.155).

Vou parando por aqui e seguindo o conselho de Maria, novamente recorro a Clarice, que em sua crônica "Mineirinho" nos diz:

Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem (Lispector, 1994; p. 186).

PS1: Por favor, quem tiver "Cria cuervos" de Carlos Saura ou sabe de uma locadora que o alugue, nos comunique!

PS2: Acabei de assistir um filme de Almodóvar sugerido por Maria e fiquei muito, muito emocionada. "Tudo sobre minha mãe".

Fátima Flórido
E-mail: fatimacesar@ig.com.br
1 - Ler ao som de "Por que te vas". Mais adiante explico.
2 - Ler ao som de "Por que te vas". Mais adiante explico.
3 - Françoise Dolto fala de "compaixão vedante" e "compaixão estruturante". Compaixão vedante seria aquela "regressivadora", que quer poupar o outro de seus próprios sofrimentos; diferente da outra que implica em estar ao lado do outro, a partir de uma identificação que não seja via culpa.
4 - Ato falho da digitadora: "nas bordas de minha mãe".
5 - "As pessoas deixaram na minha conta o que não cabia na conta deles" (p. 37) - diz Marilene Felinto em "As mulheres de Tijucopapo". Um livro que eu leio enquanto atendo Maria.
6 -Gilberto Safra vem pensando a "falha ambiental relacionando-a com a história de gerações".

Bibliografia
BARROS, M. (1998). Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro, Record.
BAUDRILLARD, J. (1990). A transparência do mal: ensaio sobre os fenômenos extremos. São Paulo, Papirus.
COMTE-SPONVILLE, A. (1999). Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo, Martins Fontes.
DOLTO, F. (1989). Dialogando sobre crianças e adolescentes. São Paulo, Papirus.
_________. (1999). As etapas decisivas da infância. São Paulo, Martins Fontes.
FÉDIDA, P. (1988). Clínica psicanalítica: Estudos. São Paulo, Escuta.
FELINTO, M. (1992). As mulheres de Tijucopapo. Rio de Janeiro, Ed. 34.
FIGUEIREDO, L. C. (1999). "Presença , implicação e reserva. Acerca da técnica em psicanálise". Texto a ser publicado.
_________________. (1995). Revisitando as psicologias: Da epistemologia à ética nas práticas e discursos psicológicos. São Paulo, EDUC; Petrópolis, Vozes.
FREUD, S. (1981 [1899]). "Los recuerdos incubridores". In: Obras completas de Sigmund Freud. 4 ed. Madrid, Ed. Biblioteca Nueva, tomo 1.
HAYNAL, A. (1995). A técnica em questão: controvérsias em Psicanálise: de Freud e Ferenczi a Michel Balint. São Paulo, Casa do Psicólogo.
HESSE, H. (1968). Demian. História da juventude de Emil Sinclair. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.
LISPECTOR, C. (1994). Para não esquecer. São Paulo, Siciliano.
_____________. (1998). Água viva. Rio de Janeiro, Rocco.
_____________. (1994). Um sopro de vida: pulsações. Rio de Janeiro, Francisco Alves.
_____________. (1986). A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.
_____________. (1980). Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres G. H. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.
MCDOUGALL, J. (1997). As múltiplas faces de Eros: uma exploração psicoanalítica da sexualidade humana. São Paulo, Martins Fontes.
PEREIRA, M. E. C. (1999). Pânico e desamparo. São Paulo, Escuta.
PESSOA, F. (1995). Livro do Desassossego. Por Bernardo Soares. São Paulo, Brasiliense.
PRADO, A. (1991). Poesia reunida. São Paulo, Siciliano.
ROSENBAUM, Y. (1999). Metamorfoses do mal: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp.
SAFRA, G. (1999). A face estética do self: teoria e clínica. São Paulo, Unimarco.
WINNICOTT, D. W. (1982). O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre, Artes Médicas. _______________. (1993). Textos selecionados da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro, Francisco Alves.
_______________. (1993). A família e o desenvolvimento individual. São Paulo, Martins Fontes.
_______________. (1995). Privação e delinqüência. São Paulo, Martins Fontes.