Atualidades do mal estar1

Caterina Koltai

Terapêutica do Sujeito, a Psicanálise é, também, uma teorização da relação do Sujeito com o mundo. Acredito que as transformações sociais interessam à psicanálise tanto em sua prática quanto em sua teoria, razão pela qual o psicanalista, interpelado pelo mal estar na sociedade, não pode se abster de testemunhar e interpretar o que lhe parece acessível. Sua responsabilidade se situa tanto no nível da clínica quanto no do social, uma vez que nenhum sintoma se forma sem essa implicação social , à condição que diga respeito ao real.

Acredito que o analista não pode evitar de pensar o político e o social em seus fundamentos . Também não pode se permitir nada querer saber daquilo que se passa em torno dele, uma vez que, quer queira quer não, acabará sendo interpelado pelos acontecimentos. O que o analista acolhe em seu consultório são justamente os efeitos desse mal-estar, sob a forma de sintoma, o qual se situa em uma zona de interseção entre o mais íntimo do sujeito e o discurso universal no qual se inscreve.

Freud jamais aceitou reduzir a Psicanálise ao desenvolvimento normal e patológico do indivíduo, deixando às outras ciências humanas o estudo daquilo que diria respeito ao coletivo . Muito pelo contrário. Sempre tentou alargar o campo de competência de sua descoberta. De Totem e Tabu (1914) a Moisés e o Monoteismo (1939), passando por Mal- Estar na Civilização (1930) nunca deixou de articular singular e coletivo, nunca aceitou a clássica distinção entre individual - singular de um lado e o social - coletivo do outro.

Como bem lembra Weil2 (1997) , para Freud tal distinção se dá de outra maneira, em torno da realidade psíquica que ele apreende através do conceito de inconsciente. E este embora diga respeito a todos os humanos, a cada vez, é uma conseqüência singular da relação ao Outro. O inconsciente freudiano é singular e não coletivo.

A realidade psíquica freudiana não se opõe à realidade exterior na qual, em nossa tradição ocidental, se costumam situar o cultural , social e político. Na medida em que se constitui através da mediação primeira ao Outro, a realidade psíquica inclui o social e não apenas através da transmissão dos elementos da cultura e história que guiam a apreensão e inteligibilidade do mundo pelo Sujeito, mas principalmente pela constituição do recalcado originário em torno do qual este , num primeiro momento, estrutura sua relação de desejo ao outro e a imagem que faz de si mesmo. E, num segundo momento, a maneira pela qual esse mesmo sujeito investirá os objetos do mundo exterior, ora idealizando-os , ora identificando-se a eles. Com seu conceito de realidade psíquica, Freud criou a possibilidade de uma articulação teórica entre subjetivo e social, singular e coletivo capaz de dar conta da tensão do mal estar "frutos da dupla polaridade que ordena a existência humana: a lógica inconsciente do devir da pulsão e do desejo, a imposição dos ideais e da lei no devir narcísico do sujeito, suas escolhas objetais, sua participação aos objetivos da sociedade e cultura". (Weil 1997)3 .

Se em Totem e Tabu esse mito moderno, como o chamava Lacan, Freud já se dera conta que o indivíduo não pode ser estudado fora da comunidade na qual está inserido, em Mal Estar na Civilização, a meu ver, sua obra prima, reitera sua posição e se debruça sobre o trágico da condição humana. Texto meta-psicológico, Mal-Estar na Civilização não é em absoluto um texto sociológico, como durante muito tempo foi considerado, assim como Totem e Tabu tampouco é aquele texto antropológico que muitos pretenderam ser. Em ambos é perceptível o deslocamento operado pela psicanálise, uma vez que lá onde as ciências humanas se debruçavam sobre as relação da pessoa com o mundo, Freud introduziu a implicação subjetiva nos problemas sociais e políticos, uma vez que a psicanálise fundamenta sua experiência naquilo que o sujeito vive como sofrimento ou impossibilidade de relacionamento com o mundo e com o outro, ressentida como uma dificuldade de ser.

Na opinião de Rey-Flaud (1998)4, partindo de um certo número de materiais clínicos ou míticos, reais ou fantasmáticos, esses dois textos articulam uma lógica subjetiva cujas conclusões se revelam às vezes no après-coup como adivinhatórias. É o caso das análises desenvolvidas em 1921, dez anos antes da eclosão do nazismo, sobre a função do líder em posição de ideal do eu, ou as previsões de Mal-Estar na Civilização quanto ao comunismo e seus futuros dilaceramentos internos, uma vez que a propriedade privada fosse abolida

Com Totém e Tabú Freud inaugurou sua teoria do fundamento do social e da cultura, afirmando que a sociedade nasceu de um crime do qual a humanidade não se libertará jamais: o assassinato do pai da horda primitiva, cometido pelos filhos em conjunto, ao qual seguiu-se a guerra civil entre os irmãos de uma mesma horda. Esse primeiro crime se constituiu no mero prelúdio de uma série de assassinatos que parecem ser o corolário normal da existência humana em sociedade.

Esse primeiro conflito fratricida, seja qual for seu caráter mítico, longe de estar resolvido ou esquecido continua em ação. Não se trata em absoluto de um momento histórico ultrapassado, mas de um fantasma estruturante, comum a todos os mortais. Freudianamente falando, a humanidade nasce de um assassinato e o crime é fundador, logo, não há como a violência não estar no âmago do humano, cada um de nós carregando em si o germe da guerra civil.

É importante salientar que, ao afirmar que toda sociedade humana se origina na articulação mítica do assassinato do pai da horda, do surgimento da proibição do incesto e do laço social baseado na culpa , Freud não está procurando o equivalente sociológico ou histórico do complexo de Édipo. Ao contrário, está enunciando a função fundadora do pai na resolução do complexo de Édipo enquanto pivô da construção psíquica do sujeito sexuado .

Em Mal-Estar na Civilização sua visão, freqüentemente taxada de pessimista, só foi se aprofundando e ele se vê na obrigação de colocar o problema do sofrimento humano frente a frente com o conjunto do campo simbólico. A insuficiência dos dispositivos que regulamentam a relação dos homens entre si não decorreria de uma imperfeição de uma faculdade que figuraria no inventário humano, mas da ambivalência inerente ao campo simbólico. Essa ambivalência própria do humano, que faz com que ele seja movido a amor e ódio concomitantemente, é a principal responsável pelo mal estar no plano coletivo onde podemos facilmente constatar que a fraternidade está fundada na segregação e o amor do semelhante no ódio ao diferente.

São essas constatações que permitem a B. Edelman (1994) afirmar que :

"... na essência do homem não encontramos nem amor pelo saber, nem desejo de verdade ou justiça, nem tampouco vontade de paz universal, mas ódio, violência ou, pior ainda, amor pelo caos e pelo desastre. E que a humanidade é suicida, pois, por um paradoxo inexplicável, se esforça por destruir aquilo que faz sua grandeza. O direito não cessa de ser contestado pela selvageria, a democracia pela tirania, a cultura pelo auto-da-fé."5

A trágica história do último século, com seus dois totalitarismos, bombas atômicas, duas guerras mundiais e várias guerras civis só fez confirmar a percepção freudiana da natureza humana. Neste final de século as constatações de Freud nada tem de anacrônico, e aos horrores do passado podemos acrescentar os da sociedade dita " pós-moderna" , frutos do desenvolvimento cada vez maior da tecnologia que pretensamente deveria garantir o bem estar. As mudanças de nosso tempo parecem todas convergir para uma degradação do laço social que se manifesta pelo aumento do individualismo, fim das ilusões e depressão que, mais que uma miséria afetiva, vem se transformando num modo de viver.

Se é verdade que a idéia paradigmática de um desamparo humano incurável atravessa toda a obra freudiana , na medida em que postula o mal-estar como inerente ao processo de civilização, como reatualizar a problemática do mal-estar em nossa modernidade? Como pensar em nossos dias a amarração entre universal e singular ?

Vejamos pois, rapidamente, quais as principais características do mundo em que vivemos, para nos perguntarmos o que acontece com o indivíduo, o sujeito singular, nessa nova ordem econômica e social chamada Globalização. .

O final do milênio parece marcado por uma uniformização cada vez maior da vida cotidiana, pelo fracasso das instituições, pelo desencantamento e decepção dos cidadãos em relação à política e àqueles que a encarnam , uma certa nostalgia em relação ao passado e principalmente por uma absoluta ausência de projetos tanto coletivos quanto individuais assim como uma aparente incapacidade de revolta. E não que nos faltem motivos para tanto....

Se o século XIX foi o da esperança e do progresso, o século o XX parece terminar marcado pela inquietude e pelas desilusões em relação a esse mesmo progresso. Atualmente parece que, retomando a frase inspirada de um deputado socialista francês citado por Taguieff6", os medos substituíram os projetos". Se durante os dois últimos séculos foi a crença no progresso que fundamentou a crença no futuro, atualmente são os medos , seja o do desemprego, da violência, da AIDS ou da poluição que justificam a perda de fé no futuro que, em termos de representação, se tornou aleatório, enigmático e indecifrável.

Como bem mostra B. Ancori (1997)7 tanto econômica quanto política e sociologicamente nada, hoje em dia, permite uma aposta no futuro.

No campo econômico, diz ele, a especulação financeira vem se tornando mais importante que a produção industrial, os papéis financeiros levando à acumulação do capital e à falsificação da riqueza que, até pouco tempo atrás, era mensurável em termos de produção e capacidades industriais. Com a vitória do liberalismo, a empresa passa a dar prioridade absoluta aos acionistas em detrimento dos assalariados e trabalhadores em geral. A palavra de ordem é preferir a rentabilidade instantânea, medida pela Bolsa, a investimentos de longo prazo. Em outras palavras: valorizar o presente em detrimento do futuro.

Paralelamente a essas transformações econômicas, no campo político vamos assistindo a uma certa tribalização do mundo, caracterizada pela importância cada vez maior que os grupos étnicos vem assumindo no mundo de hoje. Entre outras, o politicamente correto é uma das manifestações mais significativas e aberrantes. Antagonismos étnicos, lingüísticos e religiosos que, haviam sido recalcados pela Guerra Fria, parecem estar explodindo em todos os cantos do mundo. Isso explica uma das principais características do mal estar na civilização contemporânea, a meu ver, a do ressurgimento do racismo e dos fanatismos religiosos em diversas partes do mundo, que acabam desembocando em guerras fratricidas, sejam elas entre comunidades de um mesmo país, etnias ou classes sociais (Brasil), como se a guerra civil generalizada fosse, hoje em dia, a Terceira Guerra Mundial.

Sociologicamente, miséria, violência urbana e toxicomania caracterizam a modernidade. Em todas as grandes metrópoles encontramos homens, mulheres e crianças mendigando por um pouco de comida ou partindo para a agressão para conseguir sua dose de crack. Seus corpos provocam em nós sentimentos diversos: medo, angústia, nojo, culpa, indiferença ou revolta, segundo o passante e seu humor do dia. No que diz respeito às reações afetivas que o encontro cotidiano com a violência e miséria provocam em nós, efeitos do mal-estar na civilização sobre nossa subjetividade, o que chama minha atenção é que cada vez mais nossas reações tem sido de medo e angústia, quando não de nojo, e cada vez menos de culpa e revolta. Porque?

O cidadão moderno parece estar sem rumo e nas situações onde, até pouco tempo atrás, tinha a possibilidade de lutar coletivamente contra o patrão ou contra uma classe, hoje se refugia na indiferença, quando não parte para a violência contra aquele que imagina estar impedindo sua " felicidade", roubando-lhe algo que , no fundo, nunca lhe pertenceu.

Nessa nova ordem social e econômica o indivíduo contemporâneo me parece, antes de mais nada, um acossado. Tem medo e se sente inseguro quanto ao próprio futuro, e como bem lembra R. Zygouris8 (1998) é quando o tempo subjetivo não pode ser projetado num futuro, o projeto sendo " a única parada que vem, imaginariamente, fazer horizonte para se intercalar entre o presente e a morte certa" que, costumamos constatar o (re)surgimento tanto do racismo quanto do fanatismo religioso.

É nesses momentos de crise social e econômica que o discurso racista costuma vir se inserir , lá onde faltam projetos de vida que façam laço entre o singular e o social, podendo se tornar projeto coletivo e camuflar o vazio do projeto subjetivo. Em vez de sonhos e utopias, temos quando muito discursos que prometem dias melhores e designam um bode expiatório culpado por todos os males.

Nesta época do politicamente correto, lembra Garner (1999)9 a ilusão suprema parece ser a ausência de ilusões, a destruição de qualquer ilusão de um mundo melhor, a glorificação da ilusão sem ilusão de um mundo apolítico. É como se a própria idéia de subversão social e intelectual tivesse se tornado ilusória. No lugar da ilusão nós nos encontramos perante um pseudo consenso onde as coisas seriam equivalentes... O que nos leva a deslizar imperceptivelmente em direção a esses rochedos do real, em toda sua barbárie e selvageria.

Estaríamos impossibilitados de sonhar por não termos podido fazer o luto de certas ideologias e sonhos de fraternidade que alimentaram, em parte, o homem do século XX, como pretende J. Hassoun?

Faz sentido. Freud em Luto e melancolia (1915) nos diz que tanto o luto quanto a melancolia têm sua origem numa perda sofrida pelo indivíduo. E que a diferença residiria no fato de que, enquanto o enlutado assimila, paulatinamente, a ausência do objeto amado e retorna à conduta normal , o melancólico é incapaz de se livrar de seu tormento.

O luto não tem a ver com o passado, mas sim com o futuro e, mais precisamente com a impossibilidade de projetar um passado no futuro, a impossibilidade de enxergar o futuro de outra maneira que enquanto continuidade do passado. A perda age como corte naquilo que é conhecido e pode ser repetido.

Se a perda já é difícil quando se trata da perda de um ser querido, acredito que ela se torne ainda mais complicada quando se trata da perda e do luto de um certo modo de viver, de uma certa atmosfera. Como lembra Garner (1990)10 a luto por ideais, por uma certa atmosfera é como o luto pelos desaparecidos de guerra. Não se sabe ao certo quando desapareceram, nem onde, e nem como. Trata-se de perdas sem corpo e sem cadáver.

Quero deixar aqui bem claro que, quando me refiro a projeto, não estou defendendo esta ou aquela crença, esta ou aquela posição intelectual, mas tão apenas a capacidade de projetar o futuro, acreditar no próprio tempo. Acredito que o adulto, assim como a criança, também precisa de idéias, representações que se interponham entre o momento presente e a morte. O deprimido é justamente aquele que não possui mais nenhuma ilusão a não ser a idéia da morte como único indício de um horizonte temporal e espacial.. E, não por acaso, vem se tornando a figura patológica desse final de século, como afirma A .Ehrenberg (1998)11 ,ao explorar as formas extremas do individualismo contemporâneo afirmando que em nossos dias a depressão ameaça o indivíduo como o pecado assombrava a alma dirigida para Deus ou a culpa o homem marcado pelo conflito.

Em sua obra, o termo depressão recobre um conjunto heterogêneo de sintomas: astenia, indiferença, embotamento do corpo e do pensamento. O deprimido, a seu ver, sente como uma espécie de cansaço de existir, não deseja e se sente vazio.

Cansado e vazio, agitado e violento, o indivíduo contemporâneo vive um tempo sem futuro. As mudanças econômicas, políticas e sociais de nosso tempo ou, em outras palavras as transformações do discurso do Outro refletem-se necessariamente nos sintomas, na medida em que esses são históricos, localizados e significados pelo Outro, não apenas a nível coletivo mas também pessoal.

É principalmente nos sintomas da histeria que podemos evidenciar tais transformações. Entre tantas outras talvez valha a pena ressaltar a anorexia que em certos países está se tornando uma verdadeira epidemia entre as jovens. Não por acaso ao ressaltar a convergência entre história e histeria, Lacan, criou o neologismo hystoria. Os sintomas da neurose obsessiva continuam, de certa forma, sendo os mesmos enquanto no paranóico o que costuma mudar são, principalmente, os temas de perseguição e não os sintomas.

Assim, nós analistas estamos recebendo pacientes de um novo tipo assim como novos tipos de demanda. Uma demanda mais de psicoterapia do que propriamente dito de análise, mais um pedido de cura do que de saber.

Mas como não há demanda sem oferta, qual está sendo nossa oferta? O que temos para oferecer a esse indivíduo que acredita ter se libertado dos sistemas de coerção e inscrição nas instâncias dos deveres coletivos ? A esse indivíduo cada vez mais incapaz de revolta? Qual a nossa oferta face à essa degradação dos laços sociais que, enquanto analistas, não pode nos deixar indiferentes?

Acredito que nossa responsabilidade está no possibilitar um re-direcionamento para a civilização. O que, como lembra Jean-Mathias Pré-Lavière (1998)12 ,implica em reconhecer que os objetivos de uma civilização do respeito são claros e explícitos. Residem na redução da violência a suas formas aceitáveis, na não humilhação do outro; na razão como direito ao exame crítico e no princípio de reconhecimento do outro, a condição que a diversidade cultural implique no reconhecimento da universalidade dos valores da civilização.

Para tanto talvez seja importante não esquecermos, como lembra J.Kristeva (1996)13 um ensinamento da Psicanálise: a de que a felicidade só existe pagando-se o preço da revolta. O termo não é aqui utilizado por ela como sinônimo de transgressão e sim como referência ao trabalho de análise onde o analisando recupera sua memória e efetua sua anamnese junto ao analista ao qual se refere como sendo uma norma, até porque, enquanto sujeito suposto saber, encarna a proibição e os limites. Nenhum de nós goza sem enfrentar um obstáculo, uma proibição, uma autoridade, uma lei que nos permita nos sentirmos libres e autônomos. Mas para tanto essa LEI, é preciso reconhecê-la.

Caterina Koltai (011) 2627507 ou Caty@mandic.com.br




1) Título é uma homenagem a meu amigo Jacques Hassoun, falecido esse ano e seu livro póstumo que tem esse mesmo nome. É também a reelaboração de um texto escrito para a revista Sau Paulo em Perspectiva da Fundação SEADE
2) Weil, D. Le sujet à l'épreuve du politique , in Figures du sujet dans la Modernité, Arcanes, 1997 pg 20
3) Weill, D. op. cit. Pg 22
4) Rey-Flaud, H. Les fondements métapsychologiques de Malaise dans la Culture, in Autour du Malaise dans la Culture de Freud , PUF, 1998 pg 3
5) Edelman. B. (1994) Relire Malaise dans la Civlisation, in Cesure N@4
6) Taguieff P.A ( 1998).L'impuissance du politique et l'effacement de l'avenir, in Che Vuoi? N@10
7) Ancori, B.( 1997) Effacement du tiers et identité du sujet, in Figures du sujet dans la modernité, Archanes
8) Zygouris, R. (1998) De alhures ou de Outrora ou o sorriso do Xenófobo , in O estrangeiro,Escuta.
9) Garner, G. (1999) Préface à Actualités du Malaise de Jacques Hassoun
10) Garnerm G. S'agriper à l'éphémère:focalizaion et fragmentation, Bulletin N29 de l'Association des Ateliers de Psychanalyse
11) Ehrenberg. ª (1998), La Fatigue d'être soi, Ed. Odile Jacob
12) Jean-Mathias Pré-Lavière, Où est le malaise? In Che Vuoi? N210
13) Kristeva, J. Sens et non-sens de la révolte, Fayard, 1996