Primeiro grupo no Rio de Janeiro
Caderno de Inscrições

Fernando Coutinho Barros

A história desse Caderno é a história de um grupo que vem evoluindo há pouco mais de 1 ano.

Provocados por um convite feito pelo Dr. Renné Major no segundo semestre de 1997 e encorajados pela Dra. Helena Besserman Vianna, Fernando Coutinho e Miguel Calmon foram designados pela S.B.P.R.J. a servirem de ponto de referência e contato para todos aqueles que se interessassem em participar do movimento que tinha de iniciado em Paris, em Fevereiro de 1997, quando do lançamento do livro da Dra. Helena B. Vianna ''Não Contem a Ninguém''.

O movimento, batizado Os Estados Gerais da Psicanálise, pelo Dr. Renné Major, incitava os analistas do mundo inteiro a se reunirem em Paris, em data e local a serem determinados, a apresentarem à discussão suas reflexões elaboradas durante os 2 anos que antecediam o evento.

O movimento, como sabemos, foi inspirado numa instituição francesa de todos conhecida, e que data de início da Idade Média. Os Estados Gerais ficaram famosos pela importância que tiveram na precipitação das transformações sociais, políticas, econômicas e religiosas, da maior revolução que a humanidade conhece: a Revolução Francesa.

A alusão ao fato histórico assustava a uns e entusiasmava a outros. Membros dos 2 grandes movimentos psicanalíticos do século ( a I.P.A. e o Movimento Lacaniano ) olhavam-no ora com desconfiança, ora com cepticismo, ora com entusiasmo e aderência imediata à sua filosofia.

A proposta é a de uma reflexão sobre o que tem sido a psicanálise no nosso século: sua criação, crescimento, institucionalização, desvios, conquistas, etc.

Fernando Coutinho e Miguel Calmon, dentro de espírito de questionamento do movimento, propuseram uma reunião quinzenal, dentro da S.B.P.R.J., para todos os colegas que se interessassem sobre o assunto.

A primeira sugestão foi a montagem de uma espécie de curso, uma vez que a reunião faria parte do programa de ensino do Instituto de Formação da Sociedade.

O tema sugerido foi o dos Impasses da Escrita em Psicanálise.

O número de inscritos surpreendeu às nossas expectativas. Tanto candidatos como colegas já formados, acorriam com interesse e assiduidade às nossas ''noitadas'' de reflexão. A idéia dos impasses da escrita surgiu da necessidade de pensarmos sobre um fenômeno curioso.

Um número muito grande de analistas em formação ( cerca de 70 num universo de aproximadamente 160 ) não conseguia concluir suas formações por não conseguir escrever um relatório onde era pedido que fosse descrita a condução de uma análise sob controle, a fim de que o texto fosse avaliado por uma banca composta por 3 analistas com funções didáticas na Sociedade, e julgado suficiente para que, juntamente com outros trabalhos produzidos durante a formação, tornasse aquele candidato apto a pedir o seu ingresso na Sociedade, como Membro da mesma.

O sucesso da iniciativa foi surpreendente. Não somente os candidatos inscritos ( em número de 30 ) produziram textos que não seriam submetidos a qualquer julgamento probatório (foram produzidos 11 textos ) como também os lideres do grupo e convidados de fora o fizeram.

Dentre os convidados de fora tivemos a presença de um escritor de reconhecido valor literário- Carlos Sussekind - que tem como característica, basear sua obra literária, na leitura que faz de um diário de 80 volumes, deixado pelo seu pai e escrito, fervorosamente, durante cerca de 30 anos, a um ritmo obsessivo, cotidiano e rigorosamente executado 2 vezes ao dia.

O autor dos romances, filho do autor do diário, durante um surto psicótico, por ele mesmo tornado público, começa a se dedicar com paixão à escrita. Sugerimos inclusive, aos organizadores dos Estados Gerais, que sua obra fosse traduzida para o francês, tanto pelo seu valor literário, como pelo fato do autor se confessar um testemunho vivo de como tanto a escrita como a psicanálise podem funcionar como um fator de transformação da angústia psicótica em obra de arte.

Carlos Sussekind atendeu ao nosso convite e nos prestigiou com uma surpreendente palestra onde prestou contas, da forma original que o caracteriza, de como funciona em si os ''mistérios'' da escrita, da criação literária.

Findo o primeiro semestre de 1998, concluído o curso sobre a escrita e entusiasmados com a possibilidade de um contato direto com Renné Major, durante uma visita por nós organizada que ele faria ao Brasil, vislumbramos a possibilidade de congregarmos um grande contingente de colegas de outras instituições e tendências psicanalíticas, bem como de colegas independentes, não filiados a nenhuma instituição.

Helena Vianna, Fernando Coutinho e Miguel Calmon, começaram a fazer os convites para a participação na organização de uma semana de conferencias com o Dr. Renné Major. O evento ocorreu em agosto de 1998 e teve grande repercussão tanto a nível de média quanto entre os analistas.

A partir de Agosto deste ano obtivemos um espaço aberto dentro da S.B.P.R.J. para as nossas reuniões preparatórias dos Estados Gerais. Essas reuniões são livres tanto quanto aos participantes quanto em relação aos temas que nelas discutimos.

Para termos um registro escrito sugerimos, inicialmente, a adoção de um cahier de doléances, onde escreveríamos nossas ''queixas'' que seriam enviadas a Paris a fim de serem discutidas no ano 2000. Logo surgiu a idéia de que o cahier de doléances se transformasse no cahier d`inscriptions. Ao invés de queixas aqueles que se sentissem fisgados pela urgência em elaborar uma questão psicanalítica pertinente, levariam para casa o caderno e nele a desenvolveriam.

É o resumo dessas inscrições que ora lhe enviamos, para que sejam apreciadas em suas reuniões e avaliadas quanto às suas pertinências. Aguardando um retorno aí vão elas.