Reunião de preparação para o IV Encontro Latino Americano
dos Estados Gerais da Psicanálise


Amanda Souza de Britto Lyra

    "A construção do texto nas psicoses" foi o tema discutido em Recife na reunião mensal preparatória para o próximo encontro dos Estados Gerais da Psicanálise, coordenada por Ana Beatriz Zuanella Cordeiro, realizada em 29 de Agosto de 2005.

    O trabalho, produzido por Ivo de Andrade Lima Filho, será apresentado no encontro dos Estados Gerais do presente ano e teve como ponto de partida a dissertação de Mestrado do próprio autor, produzida na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), e a atual participação do mesmo no programa de Doutorado do Departamento de Letras, do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

    Ivo referiu a existência de grupos de pesquisas que trabalham articulando a lingüística com a Psicanálise. Neste sentido, em seu doutorado, está tendo como objetivo adentrar na lingüística, inserido no campo das psicoses. Com essa perspectiva, optou pelo trabalho da produção escrita.

    Em sua prática clínica, Ivo atende pacientes psicóticos e percebeu que os mesmos, em vivência psicótica, começam a produzir um texto escrito. Desse modo, começou a guardar rabiscos, fragmentos de texto que foi obtendo a partir da atividade clínica. Os escritos que nascem na clínica começaram a chamar a atenção do autor, o qual passou a atentar para as características dos mesmos, para a especificidade do texto psicótico.

    Uma particularidade levantada foi a questão da inscrição do psicótico no Real, o qual passa a ser soberano na experiência da interlocução. O Real foi visto como aquilo que não é simbolizável, sendo anterior ao signo lingüístico, no entanto, não cessa de aparecer.

    Ivo fez referência, de forma comparativa, à posição dos críticos genéticos (da lingüística) e à do psicoterapeuta no processo de produção textual. Explicou que os críticos genéticos estudam a gênese do texto, o processo de criação do escritor. Para tanto, os mesmos buscam os vestígios deixados pelo escritor ao longo da construção da obra e, a partir da obra final, pesquisam sua origem. O ponto central diz respeito ao fato de que os críticos genéticos, enquanto pesquisadores, não compartilham a construção da obra com o autor. Acrescentou que, ao contrário, o psicoterapeuta-pesquisador é co-adjuvante do processo da produção textual, ou seja, participa da construção juntamente com o autor, interferindo na mesma.

    A hipótese construída por Ivo diz respeito ao fato de que, na vivência psicótica, o estrangeiro torna-se figura, torna-se soberano, deixando de apresentar-se como fundo. O estrangeiro pode ser definido enquanto aquilo que é mais primitivo, como sendo a primeira escrita hieroglífica ou pictográfica. Neste sentido, seu trabalho mostra que o psicótico mobiliza o estrangeiro da língua que está presente em todos nós enquanto fundo textual. O Real apresentado pelo psicótico evoca o Real que também está inscrito em nós.

    O autor também colocou como ponto para reflexão a questão do saber psicótico. Referiu que, na vivência psicótica, o sujeito não relativiza sua ignorância. Afirmou a necessidade de se instaurar um certo enigma para que se produza um saber, uma criação.

Presentes:

    Adriana de Andrade Lima
    Amanda Lyra
    Ana Daniela Cordeiro
    Bruna Vaz
    Denise Alencar
    Gilza Rodrigues
    Késia Ramos
    Maria Carolina Lapenda
    Maria Cristina Araújo
    Marina Cunha B. de Oliveira
    Neide Braga
    Neuza Macedo
    Regina Campello
    Paula Magalhães
    Rafaella B. Cursino
    Sheila Carriço
    Suzana Silveira
    Vitor Barreto

Palestrante: Ivo de Andrade Lima Filho
Coordenadora: Ana Beatriz Zuanella Cordeiro