Resumo da segunda reunião do grupo
"Atualidades via psicanálise" 11-05-02

Nesta reunião estavam presentes Sérgio Telles e Cristina Magalhães. Catarina Koltai não pode comparecer. Foi lida a mensagem de Mérite de Souza, que participará do grupo via e-mail e nos enviou seu livro "A Experiência da Lei e a Lei da experiência" (Fapesp-Editora Revan, São Paulo, 1999) juntamente com o artigo "A Cordialidade como mal-estar ou violência como recalcado", publicado na Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, II,4.

Foi lido o material colhido nos jornais do mês (vide abaixo) e dicutido o texto de Sergio Telles "Pensando a respeito da pedofilia (abusos sexuais infantis) e da teoria da sedução", escrito a partir das notícias veiculadas no mês anterior. O texto e um curto resumo das discussões podem ser lidos abaixo.

Foi pensado uma forma de facilitar a participação via e-mail daqueles que não possam se fazer presentes. Os interessados podem ler o resumo das notícias e caso alguma o interesse, facilmente vai encontrá-la na rede, pois as notícias selecionadas vão datadas e com a página do jornal onde foram publicadas. Podem - é claro - sugerir outras notícas além das selecionadas . Os comentários e discussões seriam enviadas para o nosso site, com a indicação "atualidades via psicanálise". O mesmo vale para o(s) texto(s) produzido(s) pelos participantes, como o "Pensando a respeito da pedofilia e teoria da sedução" e o "Corpos Nus".

Essas são idéias iniciais e sugestões são bem recebidas

Resumo da discussão do texto "Pensando a respeito da pedofilia (abusos sexuais infantis) e da teoria da sedução"

A primeira questão mais ampla foi a retomada da diferença entre o pensamento científico e o religioso. Tal questão foi abordada diretamente por Freud especialmente em "O Futuro de uma Ilusão" e "A Questão de uma Weltanschauung". Sem termos retomado os textos clássicos, concluimos que o pensamento científico implica o abandono da onipotência narcísica, da ilusão de completude e totalidade, o estar permanentemente aberto para o reconhecimento das limitações e impossibildades. Em outros termos, o pensamento científico implica a noção de castração simbólica. O pensamento religioso, seria o oposto disso, a ilusão da completude narcísica onipotente infantil. Em sendo assim, o pensamento religioso poderá sempre invadir qualquer atividade humana, mesmo as pretensamente "científicas".

A segunda questão dizia respeito a como fazer uso do inestimável acervo de conhecimentos trazidos pela psicanálise, sem que este uso seja uma mera "aplicação" da psicanálise. Vimos que o analista não pode ignorar esse acervo sem cair no risco de estar permanentemente "reinventando a roda". O conhecimento teórico estaria assimilado e integrado na psique do analista através da experiência viva de sua própria análise e supervisões. Esse conhecimento teórico permite elaborar hipóteses sobre o analisando, devendo o analista estar sempre atento para discriminar essas hipótese (legitimamente justificadas como um procedimento de investigação sujeita aos princípios de tentativa e erro, que é o que permite conceber "construções em psicanálise") de meras projeções de modelos superegóicos ou provenientes do ideal do ego, frutos dos pontos cegos (entenda-se, da neurose não inteiramente analisada) do próprio analista.

A psicanálise é "contra" a religião? Podemos responder afirmativamente no que diz respeito a Freud, que a considerava uma "ilusão", um "delírio socialmente compartido", uma "neurose obcessiva da humanidade". Como um homem das Luzes, Freud achava a religião um poderoso fator de obscurantismo e infantilismo do ser humano. Um atraso na construção de um mundo futuro melhor. Ou seja, Freud tinha uma posição política contra a a religião, uma produção da sociedade e da cultura. Não tinha, nem poderia ter, nada "contra" um paciente "religioso", quando caberia entender qual o papel que, na economia psíquica deste paciente, exerce essa "religião".

Isso tem inumeros problemas a serem pensados: como lidar na clínica com posições políticas tomadas pelo analista, que o tiram da suposta neutralidade?

O mesmo vale para a questão: é a psicanálise "contra" a pedofilia? A psicanálise entende a pedofilia como um desvio da sexualidade decorrente de uma série de fatores psicodinâmicos relevantes. Não pode ser "contra" um pedófilo.