Falecimento de Jacques Derrida

Chaim Katz

Jacques Derrida era o mais importante filósofo francês contemporâneo. Profundamente interessado na Psicanálise, estabeleceu novas dimensões para o Inconsciente freudiano. Por exemplo, mostrou que o inconsciente emergia de diversos lugares e que a Psicanálise sempre se construiu sobre vários regimes de Memórias. A memória não tem um centro único, uma temporalidade ou um traço unitário, não é Um Mesmo. Ela é uma diferença invisível entre as Bahnungen (trilhamentos, conforme Freud) e se faz à moda de uma escritura, sempre produzida diferencialmente. Com isto, Derrida procurou retirar a Psicanálise do campo particular das representações, dando primado às pulsões (como o fazemos na Formação Freudiana). Descentrou a memória e suas questões da idéia de UM Simbólico e valorizou a multiplicidade do inconsciente, como o fez no Mal de Arquivo.

Fundada pela repetição e não pela reprodução de UM Simbólico, Derrida privilegiou o conjunto de traços e pensou a diferença longe do ser como presença ou essência. Assim, a vida é criação contínua e não há originário e sim encontro e diferenciação de forças e entre forças. Com isso, Derrida positivou a compulsão à repetição, dando-lhe um estatuto positivo que não merecia nas teorias do Eu ou de O Simbólico. Tal movimento o levou a outra concepção de ética, onde a busca da multiplicidade de vias se faria -de acordo com Freud- através de sua afirmação positiva, das Um-wege, dos des-vios. Pois também os espaçamentos, rupturas e transgressões, vazios e solidões constituem os modos de subjetivação.

Assim, valorizou e produziu o que desliga e desconstrói, como o mostrou nos I Estados Gerais da Psicanálise, ampliando o conceito de crueldade. Derrida mostrou que a crueldade opera como um Incondicional, se impõe como constituinte necessário e permanente da vida psíquica. Se assim é -e é- a Crueldade seria uma escritura do nosso tempo, o que coloca em questão o papel e o sentido da Soberania.

Os membros da Formação Freudiana sentiremos muita falta de seus ensinamentos, e também (os que puderam conviver com ele mais de perto) saudades.