|
III Reunião de preparação para os Estados Gerais da Psicanálise
Bruna Vaz, Luciana Maia e Marina de Oliveira
Transmissão e Instituição Psicanalítica foi o tema proposto na terceira reunião de preparação para os Estados Gerais da Psicanálise, no dia 25 de outubro de 2004.
O encontro, coordenado pelas psicanalistas Ana Beatriz Zuanella e Paulina Rocha, foi pautado no texto “Reflexões sobre a instituição psicanalítica na contemporaneidade”
das psicanalistas Ana Elizabeth Cavalcanti, Cármen Cardoso e Paulina Schmidtbauer Rocha e teve como expositora a, também, autora do texto Cármen Cardoso.
Após a apresentação de algumas idéias do texto citado, deu-se inicio a uma discussão referente ao que seria uma instituição e a diferenciação existente entre essa e uma organização.
Cármen, então, expôs a noção de que “a organização é aquilo que dá forma ao que está institucionalmente estabelecido” e a instituição “é o fundamento e aquela que legitima as relações”.
Apesar dessa distinção, existem grupos de psicanalistas que, por não estarem de acordo com os modelos estabelecidos por algumas instituições psicanalíticas, recusam-se a se submeter a essas, formando
grupos que se autodenominam não institucionalizados. No entanto, sabe-se que, na verdade, esses grupos compõem uma instituição que não tem um caráter de organização.
Cármen acrescentou, ainda, que parte da instituição é representável existindo, porém, sempre algo desse institucional que “transborda do campo representacional”. Frente a esse argumento,
questionou-se: “o que seria esse algo? Seria a pulsão de morte?”. Diante disso, surgiram reflexões sobre o papel da pulsão de morte nas instituições. De um lado, está o seu caráter destrutivo e do outro, o caráter construtivo.
Essas duas facetas remeteram ao mito da Horda Primitiva, apresentado em Totem e Tabu. A partir desse mito, Cármen fez analogias acerca dos mecanismos institucionais e de suas identificações ao pai assassinado e ao pai morto.
“O pai assassinado representa o pai tirânico, onipotente e dominador”, mas, pelo qual os filhos subordinados se submetem na tentativa de fuga do desamparo (Birman) na medida que esse, o pai, também, proporciona uma segurança.
Segundo Cármen, isso é observado em instituições mais fechadas em que se constroem “formações identitárias, submissão teórica, sujeição burocrática, hierarquia rígida e ensino modelador”.
Por outro lado, o pai morto representa os “ideais, valores, normas e leis indispensáveis à civilização”. A identificação ao pai morto está associada a capacidade produtiva do sujeito, a qual possibilita uma das formas de vivenciar o desamparo,
resultando em identificações múltiplas, produção em nome próprio, pluralidade teórica e posições móveis na hierarquia. Este movimento caracteriza instituições psicanalíticas mais abertas.
Para que os membros da instituição não se coloquem em posição de subserviência a um líder onipotente e passe para uma posição de pluralidade de identificações é necessária a elaboração do luto do pai morto. Para tal, também, é indispensável um
pacto de manutenção de uma configuração fraterna entre os participantes, já que existe uma tendência ao retorno de uma onipotência paterna.
Resgatando as colocações anteriores, os Estados Gerais propõem produções em nome próprio e plurais que vão de encontro ao engessamento tão presente em algumas instituições psicanalíticas, onde o resto da violência que emerge diante da
identificação ao pai morto tenta se impor sobre o pacto fraterno estabelecido.
Por fim, expandiu-se o debate para um campo mais amplo não levando em conta, apenas, as instituições psicanalíticas, mas também outras situações da vida cotidiana.
Presentes:
|
|