|
CARTA ABERTA ao comitê executivo do II Encontro dos Estados Gerais da Psicanálise
Virginia Portas
Carlos Castellar, Chaim Samuel Katz, Eduardo Losicer, Joel Birman, Miguel Calmon du Pin e Almeida e Suelena Werneck Pereira
Dignidade, qualidade, respeito à diferença marcaram o tom deste evento. Saem do campo das idéias para ganharem estatuto de exercício efetivo das suas funções designativas. O que vocês proporcionaram, escapando às armadilhas das habituais provocações que se escondem em defesa do "nome próprio", foi um marco exemplar a todos que puderam se afetar, de uma maneira ou de outra, pela vivência desse encontro. Se afetar, de uma maneira ou de outra, pelas falas contundentes dos nossos convidados, que trouxeram no corpo, para além dos seus pensamentos, suas histórias, suas vidas. Não é brincadeira não, 25 anos de prisão não conseguirem esmaecer o vigor passional do "nosso" Toni Negri. A contradição apaixonada de Tariq Ali com seu discurso bélico pela paz. A tranquilidade iluminada da sabedoria do nosso Sérgio Rouanet. Testemunhamos ainda, como um precioso brinde, um comovente encontro de amigos, que nos faz acreditar na força da amizade, trazida pela delicadeza do tom das palavras de Leandro Konder. Encontrar em Marco Aurélio Garcia uma leitura psicanalítica - e, talvez por isso, a mais grata surpresa – a ensinar o simples e o tão complexo: pequenos e responsáveis movimentos são nossas armas para combater a perversa tirania do neoliberalismo.
A invenção da função leitor cumpriu na sua prática o que poderíamos chamar de exercício da amizade, intermediando a força da lógica dos argumentos e a força da lógica dos argumentadores, dando espaço e dignidade a todos os trabalhos, respeitando os autores nas suas diferenças argumentativas, o que nos leva à excelência dos que cumpriram esta função.
Essa marca fundadora da sutileza, expressa pela escolha sensível dos convidados, pelo requinte da criação da função leitor, e, fundamentalmente, pela postura ilibada e capacidade de organização deste comitê, que com muito trabalho e permanente atenção pode ir contornando as dificuldades mais corriqueiras, do cafezinho à substanciosa “merenda” da nossa Suelena – com direito à campainha de final de recreio. Mas, o mais importante, proporcionou e garantiu a livre circulação da palavra, das idéias nas suas manifestações mais contundentes, garantidas pelo clima de respeito imposto por este comitê, a quem agradeço por quatro dias de intenso convívio com o que de melhor se pode produzir: um acontecimento inesquecível.
Virginia Portas
|
|