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Em Memória de Jacques Derrida

Homenagem do Comitê Executivo a Derrida

Com esta nota queremos homenagear Jacques Derrida, recentemente falecido, lembrando as palavras que ele, num gesto de profunda amizade, nos dirigiu, psicanalistas dos Estados Gerais da Psicanálise, reunidos no Primeiro Encontro Mundial em Paris, no ano 2000. Naquela que viria a ser a assembléia fundante de nosso movimento, Derrida nos endereçou questões precisas e urgentes sobre os temas que, a seu ver, são os mais específicos e próprios à Psicanálise, enunciando-as em torno a três temáticas ligadas à atualidade: crueldade, soberania e resistência. Recolhemos muitas destas questões no Segundo Encontro Mundial, no Rio de Janeiro, em 2003, e é à luz, pouca ou muita, do que esse Encontro nos propiciou, que hoje nos referimos aos temas daquele que foi, sem o álibi da dúvida, o grande pensador amigo da Psicanálise.

Para Derrida, somente a Psicanálise pode reivindicar a especificidade da questão da crueldade. Pensamento sem álibi, pode se dar sem as barreiras que a impedissem averiguar seus próprios limites, ao mesmo tempo em que investiga o mundo. Só assim a Psicanálise está apta para o porvir da crueldade.

Para que isso se faça, é preciso analisar duas resistências, que se produzem simultaneamente. A da Psicanálise ao mundo, este mundo que, votado à globalização, impõe comportamentos e estares de todas as maneiras. Mundo cujas regras e leis, de todas as ordens (políticas, jurídicas, tecno-científicas, morais, culturais etc.), resistem a um saber sem álibi. Mundo que impõe homogeneidade e produz ligações, sendo extremamente cruel com o que lhe resiste.

Sem álibi, a Psicanálise pode e deve examinar e modificar o mundo afirmando-se positivamente. Assim, ela resiste a si mesma, mas insiste nas resistências, que só podem ser provisórias, deslocáveis na medida em que ela resiste menos a si própria. Só deste modo colocamos a soberania em questão, pois esta quer se afirmar desde mecanismos de saber e poder, ignorando a existência do mal e das resistências.

Certamente, ensina Derrida, com isto cria-se um paradoxo, pois tal afirmação insistente marcará o fim da Psicanálise como instituição, mas seus traços são inapagáveis e permanentes.

Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2004
Comitê Executivo

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