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Betty Bernardo
Fuks (Brasil - RJ)
Plenária de Encerramento
Eu quero expressar
o meu repúdio ao que aconteceu ontem
aqui à noite, não do lugar de
onde a maioria dos aqui presentes me conhece.
Tenho um livro sobre Freud onde trabalho a
questão do exílio do analista
e a marca do exílio na história
do povo judeu e para o qual o Estado de Israel
apresenta uma grave e grande ameaça.
Não quero falar sobre o legado sublime
que o Islamismo deu ao mundo, o Alcorão à matemática, à arquitetura,
nem do sublime do antigo testamento para o
qual o Maurice Blanchot chama a atenção,
que é a experiência de linguagem
dos judeus, com um Deus que se reenvia, os
reenvia ao eco de suas próprias vozes. Mas
são exatamente essas marcas do sublime
que me fazem no momento me perguntar: como
pode uma platéia de analistas aplaudir
de pé um discurso que faz apologia da
destruição, da invenção
de identidades coletivas fixas e imutáveis? Como
podemos comprar a idéia de uma ingenuidade
infantil que, num rasgo de liberdade, joga
pedras no outro em nome da liberdade? Acaso
Freud não nos ensinou que nos constituímos
desde o primeiro grito a partir do outro, da
cultura? Como podemos aplaudir as ações
da pulsão de morte em sua face negativa
que sempre se revela, como o Rouanet, acabou
de nos dizer, como crime contra a humanidade? Como
esquecer rapidamente das palavras de Freud
a Romain Rolland e a Einstein quando ele diz
que “tudo que podemos fazer contra a
destruição e a violência
devemos fazê-lo”? É esta
recomendação freudiana que me
ajuda a entender a tradução do
antigo testamento, do mandamento do “não
matarás” pelo avesso, “farás
tudo para que o outro viva” . Freud certa
vez disse a um colega que ficava muito aturdido
em verificar que a maioria dos analistas não
era atravessada pela própria psicanálise
enquanto uma prática de desidentificação,
de desidealização e de encontro
com o inconsciente e a minha dor é a
mesma com o espetáculo que eu vi ontem
aqui à noite. Cem anos depois
continuamos a repetir o mesmo, a aplaudir um
conferencista que ignora parte da história
e que responde às perguntas, quando
ele responde às perguntas que lhe fizeram,
em nome do outro e não de si próprio;
isto é, no mínimo, jogar na lata
do lixo os ensinamentos freudianos, é incendiar
nossa prática política de diferenças,
de escuta do outro, de acolhimento da dor e
do sofrimento. Espero que o documento
que estamos por produzir aqui se afaste radicalmente
da posição do senhor Tariq Ali,
que propõe como forma de resistência
a humilhação, o suicídio
e a morte. E a do senhor Negri, que diz
não reconhecer o inconsciente. Isso
parece ser suficiente para objetivar - eu pediria
só para eu terminar, depois vocês
podem falar - e isso parece ser suficiente
para objetivar nossa capacidade de reflexão
oferecendo uma passagem direta para a eliminação
daquilo que eu desconheço. Esta é a
forma pós-moderna de indiferença:
eu elimino porque não conheço,
não está na minha frente porque
não tem existência.
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