|
<<
BACK
mesas
Halina Grynberg (Brasil
-RJ)
Plenária de Encerramento
Bom, hoje nós
fomos brindados por uma fala que um grande
pensador e ontem fomos seduzidos por um espetáculo
de violência que poderia nos reduzir à condição
de platéia passiva. O discurso
da violência nos seduzindo a partir de
recursos cênicos primários: a
eloqüência de belas palavras e um
pensamento racionalizado bem formulado e fluente,
o riso e o humor atrofiando nosso sentido crítico,
a bela estampa de um rosto expressivo
falando inglês. O discurso da violência
emitido por alguém que fala a partir
do lugar de um artista, um lugar ideal de erotização
e em nome de seus companheiros poetas seduz
ao dizer que sabe o que os outros não
sabem, vê o que os outros não
vêm e por isso nos convoca a participar
do seu olhar e de seu suposto saber onipotente.
Nós, uma platéia de intelectuais
e psicanalistas, aplaudimos um “star” dentro
do espetáculo montado e produzido dentro
dos Estados Gerais da Psicanálise em nome
da diversidade de idéias e do examinar-se
as relações da psicanálise
com a política da atualidade. No
entanto, é em meu nome, em primeira pessoa,
como diria o Chaim, que eu gostaria também
de dizer que eu não conhecia os livros
do senhor palestrante de ontem nem seus pensamentos,
conhecia sua fama de escritor e pensador e tinha
a expectativa positiva de que as palavras que
o anunciavam dentro do programa fossem realidade. Ontem
também assisti alguns colegas, a maioria
aplaudiu e se comoveu às lágrimas,
quando o senhor Tariq Ali apresentou um discurso
insensatamente parcial, sua eloqüência
incendiária, a sedução e
o gozo de palavras aspergidas sobre uma platéia
fascinada e reverente na sua maior parte. Aprendi
que os americanos são fundamentalistas,
os franceses são fundamentalistas, os
ingleses e os israelenses. A civilização
ocidental poderia ser assim, fundamentalista
na generalização do senhor
conferencista e talvez ele próprio.
No
entanto, não obtive resposta para a minha
pergunta sobre os fundamentalistas dos países árabes,
já que não basta ser muçulmano
ou árabe para ser fundamentalista, como
também é preciso não confundir
os judeus e o Judaísmo, que é uma ética
e uma religião com o Estado de Israel. Assim
como convém não confundir os americanos
aqui presentes e os muitíssimos presentes
em seu próprio país com Bush e
sua doutrina de totalitarismo múltiplo.
Deixar o senhor Tariq falar aqui foi assistir
a um exercício de democracia e tolerância
compartido por nós. Mas não
assumir as conseqüências desta escuta é um
exercício individual e também no
momento uma questão de responsabilidade
política dessa assembléia.
Como parte dessa assembléia, filiei-me
provisoriamente aos Estados Gerais da Psicanálise.
Devo dizer meu nome próprio, sou Halina
Grynberg e também devo dizer que além
da minha filiação à psicanálise
há também uma outra que não é provisória
e é permanente: sou filha dos meus pais
Isaac e Miriam Grynberg que foram torturados
por serem judeus na Segunda Grande Guerra, muito
antes de existir um estado de Israel e sua política
controversa e sequer o Ariel Sharom, que comanda
essa política. Nem por isso, meus pais
me transmitiram a idéia de que me incendiar
ou jogar-me sobre outros civis seria um ato de
coragem perante os estados de exceção
e de desumanização brutal. Que
a psicanálise não é o psicanalista,
aprendi aqui. Que falamos em primeira pessoa
quando podemos também o estou fazendo
aqui. Por isso me pergunto: o que leva
a uma comissão organizadora de um evento
tão múltiplo a escolher entre tantos
nomes possíveis o deste senhor? Como é que
uma assembléia dos Estados Gerais da Psicanálise,
que reflexão ela pode produzir, que ofereça
uma reflexão específica sobre o
que foi vivido aqui sobre as palavras do senhor
Tariq Ali? Só para finalizar, acho
que antes de dois minutos, eu gostaria de acrescentar
algo mais que indica minha filiação. Eu
também sou brasileira, também sou
judia como Helena Besserman Viana, a quem pretendíamos
homenagear.
Texto na íntregra para download
no formato Acrobat (.PDF)
Texto completo para download
en el formato Acrobat (.PDF)
Texte en entier pour download
dans le format Acrobat (.PDF)
Text in full for download
in Acrobat format (.PDF)
|
PORTUGUÊS |
|

Caso não
possua o programa Adobe Acrobat,
clique no ícone acima. (programa
de distribuição gratuita)
|
|
|