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Comentários
dos Participantes
Marialzira Perestrello

Carta para Miguel
Calmon
Querido
Miguel
Li com cuidado todo o programa dos E.G.P. Há
temas difíceis para mim, ignoro até
a terminologia. Não sei como seria minha
reação diante de uns poucos trabalhos.
Há, entretanto, vários deles que
pretendo ler e estudar (espero que sejam publicados
ou pedirei cópia aos autores). Quanto ao
preconceito do analista dever trabalhar somente
em seu consultório, já estamos distantes
daqueles primeiros tempos de nosso Grupo de Estudos,
quando Perestrello era criticado pelo fato de
dar cursos na Faculdade de Medicina...
Felizmente, nossa S.B.P.R.J. já está
bem diferente. Os programas de rádio com
Sonia Eva Tucherman e o trabalho comunitário
empreendido por alguns colegas mostram já
estarmos longe daquela atmosfera fechada que,
em parte, justificava a crítica de adversários
da Psicanálise, ao dizerem que "vivíamos
em torres de marfim". Quanto à suposta
neutralidade e atitude apolíticas do analista,
há vários trabalhos de argentinos
sobre o assunto (época em que eu já
voltara para o Brasil).
Talvez alguns colegas estranhem o que vou dizer:
afinal, se Freud estivesse vivo, ele também
encararia o mundo e a humanidade atuais de modo
um pouco diferente de quando nos deixou em 1939.
Freud sempre se reformulou.
Estou velha para dedicar-me a trabalhos comunitários
porém acho-os utilíssimos e espero
que continuem a ser realizados. São poucos
os anos que me restam para escrever. Pretendo
ainda historiar o que vivenciei nestes 50 anos
de psicanalista qualificada em constante
estudo e aprendizagem.
Querido Miguel, esta carta é para dizer-lhe
que, como convidada para a Inauguração
e também tendo assistido à conferência
de Rouanet (no encerramento), não senti,
nestes eventos, qualquer atmosfera de intolerância.
E sim: ambiente e atmosfera de escuta e desejo
de procurar soluções. Vislumbrei
panoramas novos e com esperança.
Penso que se aprende ao ouvir, escutar pessoas
diferentes. O que não quer dizer que fiquemos
pensando da mesma maneira; mas é útil
por vezes indispensável - conhecer
os outros modos de pensar. Há sempre algo
sobre o qual poderemos "pensar sobre",
refletir.
Excelentes suas palavras em homenagem a Helena.
Um afetuoso abraço,
Marialzira Perestrello
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