O silêncio de um passado petrificado*

Edelyn Schweidson

Para Lévinas (1), há trauma quando da substituição do mesmo pelo Outro, momento inaugural de nossa responsabilidade alteritária. Assim entramos no Simbólico com nosso Inconsciente representado por este Outro - locus inicial de nosso pertencimento comunitário - que nos desperta à nossa humanidade. Este trauma pré-ontológico, que despedaça nossa identidade e introduz-nos à linguagem enquanto diálogo, pode ser historicamente reavivado sempre que o sofrimento de alguém nos interpela ou um descaso inumano petrifica o tempo e silencia as palavras.

O trabalho com pacientes traumatizados por eventos insuportáveis muitas vezes revela um sujeito despedaçado a quem falta um cerne pessoal contínuo. Tais eventos parecem ter ocorrido sem ninguém para simbolizá-los, possivelmente por sua desumanidade ter provocado o desaparecimento do sujeito. Estes pacientes sofrem da emergência de conjuntos dissociados de memórias que parecem ter registrado todas as circunstâncias do trauma em estado congelado.

Nada que o terapeuta faça ou diga parece produzir efeito nestes momentos. Talvez isto se deva à ausência do paciente da cena do trauma, que pertence a um passado inacessível à linguagem dialógica. Estes traumas não testemunhados e resistentes à simbolização apoderam-se do sujeito, e suas reencenações podem representar tentativas renovadas de dar testemunho e endereçamento, que sempre terminam em fracasso e desastre.

Uma intervenção terapêutica com crianças de rua (2) freqüentemente nos confronta com vítimas da reatuação de um horror sobre o qual não podem testemunhar. Quando lhes é pedido, em grupo, que entrem num espaço transicional de narrativa, tendem a decretar sua impossibilidade pela atuação de cenas que ameaçam suas vidas e as de outros.

A narrativa oral vem sido usada neste trabalho. Para Benjamin (3), ela é o tecer pela comunidade artesã dos fios invisíveis que transmitem suas experiências através dos tempos, com narradores sucessivos nela imprimindo suas marcas singulares. Meninos de rua parecem caídos para fora do tecido narrativo comunal que, por esgarçar-se, não os sustentou. Traumas roubarem-lhes suas memórias e eles parecem viver na superfície de uma consciência impermeável que os isola dos outros, dos seus passados, e da descoberta de seu futuro nestes passados. Reagindo a um universo sem contos, não encontram uma comunidade neles próprios e incessantemente repetem o silêncio de suas origens quando não foram recebidos por uma narrativa de cujo desenrolar participassem.

Ferenczi (4) refere-se ao trauma como a reatuação quase sempre masoquista de eventos abusivos, com o sujeito deixando seu corpo a fim de não sofrer o assalto, ao mesmo tempo em que se cola à subjetividade do assaltante para manter algum laço com a vida e com um simulacro alucinado de apreço por ele, ainda que através do próprio menosprêzo aniquilador.

Algumas crianças, demasiado traumatizadas por abandono, não conseguem iniciar uma narrativa. Um menino de onze anos que fôra encerrado num chiqueiro fora da sua casa inicia um diálogo comigo. Repetidamente aponta para um fantoche e pergunta seu nome; diz em seguida o nome aprendido enquanto aponta para um outro fantoche perguntando se este era o seu nome. Um começo dialógico estava sendo vivido por nós quando foi brevemente interrompido por minha ausência. Na minha volta, encontrei o menino, expressão ausente, representando cenas de estupro com os fantoches. Talvez a este menino não tenha sido propiciada a matriz intersubjetiva consistente que lhe teria permitido suportar uma ausência porque habitada por seus outros significativos. Ao invés disto, o vácuo da separação o fez vítima de pulsões tanáticas que reatualizavam o trauma sofrido. Sem o suporte de uma experiência dialógica prévia, ele não pôde sustentar construções narrativas na ausência física de um interlocutor. No fort-da (5) talvez nunca tenha dito Fort!, porque faltou um Da! ; de modo que seu Fort! - ele próprio desaparecido - havia-se eternizado.

Sobreviventes do desastre testemunham através de seus escritos sobre horrores sofridos. Muitos o fazem às custas de suas vidas, como se o inexprimível sobre o qual tentam testemunhar não consentisse em ser sobrevivido e revelado. O trauma de ninguém a quem se endereçar quando sofrendo o horror invade sonhos, escritos e vidas dos sobreviventes tornando-lhes muitas vezes impossível o prosseguir. Do centro de sua solidão, Celan percebeu que ninguém testemunha pela testemunha (6). Perdera seus pais no Holocausto e tentou expressar o inexpressável e alcançar "terras do coração" através de sua poesia, que considerava um "aperto de mãos" e "mensagens numa garrafa"(7:115). Seus escritos são um testemunhar incessante pelos que foram assassinados. Empenha-se em vivenciar a morte do Outro como sua, devotando sua poesia a uma auto retraumatização através de um ferir-se e/ou de um acordar como sobrevivente que é acordado para um endereçamento (8). Este despertar é ele próprio traumático dada a necessidade ética e a impossibilidade de se responder à morte de alguém (1). Para transmitir a experiência de horror através da linguagem, Celan fragmentou-a e distorceu-a, reduzindo-a, às vezes, à evocação de um anônimo cadáver despedaçado. E assim como tentava sofrer, com e através da linguagem, o silenciar brutal das vozes, também buscava em seus poemas presentificar o passado "agora caído na não história", e o petrificado cenário de desolação a que tinha sido reduzida "uma região em que seres humanos e livros [toda uma cultura] costumavam viver". (7:114). Sua obra é um interpelação constante, um endereçamento a um Ninguém que ele parece determinado a - embora também desesperando de - ressuscitar.

Celan fez da linguagem a portadora da catástrofe sofrida: "Isto, a língua, permaneceu, não perdida, sim, apesar de tudo. Mas teve de atravessar sua própria ausência de resposta, atravessar seu silenciar medonho, atravessar as mil escuridões do discurso mortífero. Ela atravessou tudo isto e não deu de volta nenhuma palavra por aquilo que aconteceu; no entanto, ela atravessou o acontecimento..." (7:114-15). Celan tem dúvidas quanto ao destino de sua poesia: "Um poema, enquanto manifestação da língua e portanto essencialmente diálogo, pode ser uma mensagem numa garrafa, enviada na não sempre grande esperança de que, em algum lugar e em algum tempo, possa aportar em terra firme, em terra firme do coração, talvez." (7:115). Estes poemas "...são feridos pela realidade e à sua procura." (7:117). Sua obra encontrou mal-entendidos: Adorno condenou toda poesia após Auschwitz como se sugerindo que "num destino impensável houvesse algum sentido"(9) ; por outro lado, os poemas de Celan foram exaltados por ajudar a "entender, dominar e superar" as "forças sombrias de nossa história". Os destinatários pareciam recusar-se a ler suas mensagens. Com o intuito de esclarecer estes mal-entendidos, Celan foi progressivamente conduzindo seu estilo para um verso menos melodioso, "mais dilacerado e mais elipticamente dilacerador."(10:35) Ele escreve: " Vocês minhas palavras sendo quebradas/ comigo.../ com o ser hu, com o mano, com o ser humano."(11:187). E ".. os/ sulcos, os/coros, naquele tempo, os/ Salmos. Ho, ho-/sana/"(12:123). Ele quebra suas palavras, rompendo qualquer unidade de sentido consciente. Sons quebrados são testemunhas de um conhecimento que os ultrapassa, e em cujas garras fragmentadoras se encontram. Uma vez que: "uma palavra - você sabe/ um cadáver." Porém: "venha vamos lavá-lo,/ venha vamos penteá-lo,/ venha vamos virar/ seu olho na direção do céu." (13:66). Como se ministrando pelo morto, Celan nos pede que façamos o olho do cadáver olhar para cima, em vez de ser fechado (14). E, apesar disto: "Pela/ eclusa eu tive que ir,/ para salvar a palavra de volta para dentro/ e para fora e através do dilúvio de sal." (15:288). Ele se refere à poesia como sendo freqüentemente um "diálogo desesperançante" (16:163) contra os que a percebem como mero diálogo: "Em nenhum lugar/ indagam de você.... Ninguém nos amassa mais de terra e barro,/ ninguém encanta nosso pó./ Ninguém./ Abençoado sejais vós, Ninguém./ Sob vosso olhar / teríamos vicejado./ Sob vosso/ Mau-olhado./ Um Nada fomos, somos agora, e sempre/ seremos, vicejando; o Nada -, a/ Rosa de Ninguém./ (17:167)

O testemunho se endereça a outros, e em sua solidão "...a testemunha depõe sobre o que foi dito através dela..."(18:115), e que a ultrapassa. No entanto, esta auto retraumatização através da escrita repete o horror do encontro malogrado com a morte - Ninguém - como a sua verdade intrínseca. De modo que este imperativo ético - motivo para prosseguir até quando impossível - pode revelar-se insuportável e aniquilar a testemunha. Como um papel queimado por uma escrita de fogo, a vida de Celan e as de tantos outros foram consumidas por suas obras que depõem sobre eventos inefáveis através da própria destruição destes escritores, impossíveis sobreviventes do inexperienciável.

Além de um endereçamento a interlocutores, o testemunho visa restaurar algum domínio sobre a linguagem. Crianças de rua, por ela não acolhidas nem nomeadas, freqüentemente a atacam e inscrevem sua busca anônima de um nome na destruição das narrativas correntes de monumentos e cidades através do grafitismo, por exemplo, este escrever na contramão. Assim tentam rasurar limites que os excluem e fragmentar uma escrita que não os inscreve. Para estas crianças, a linguagem não é sentida como um direito porque foram traumaticamente jogadas para fora dela.

Muitas das vítimas de Auschwitz sentiam-se usurpadores quando usando a língua da cultura na qual nasceram, e impostores que traíam suas origens ao nela escreverem. Kafka endereçou-se ao desespero de escritores judeus que escreviam em alemão às vezes na tentativa de se assimilarem à cultura dominante: "...eles queriam [assimilar-se], mas suas patas traseiras estavam coladas ao judaísmo do pai, e suas patas dianteiras não encontravam novo terreno..."(19:394). O próprio corpo é despedaçado neste conflito identificatório entre fidelidades lingüístico-culturais em que o "novo terreno" se revelou um cemitério de corpos insepultos. Neste corpo dividido, inominado pela cultura que acusava estes escritores de contaminá-la e degradá-la, Auschwitz - um lugar "Onde a palavra que era imortal, caiu" (20:189) e que fez com que "Toda palavra que você pronuncia -/ Você a deve/ à destruição" (21:203) - enxertou um inominamento ainda mais profundo - "Todos os nomes, todos aqueles jun/tos incinerados/ nomes. Tanta cinza a abençoar." (22:278). Um apagamento pela "cultura" dominante de traços identificatórios, grafitismo como a História escrita pelos poderosos.

Por muito tempo, a descrença nos relatos dos pacientes tomou a forma de deslegitimá-los, responsabilizando-se a vítima por injúrias sofridas e reduzindo-as a uma realização de desejos. Isto quase sempre significou o silenciamento dos submetidos aos detentores do poder. Devido à freqüência da presença do desejo e da busca masoquista de confirmação no agressor, questões de realidade e responsabilidade ética foram costumeiramente desconsideradas. No entanto, cada vez mais se percebe que acusar as vítimas resulta apenas em sua maior vitimação, que o fascínio mórbido resulta do envolvimento masoquista com agressores e que muitas vezes tanto a realidade como o desejo estão presentes na repetição do horror.

Porém o trauma dificilmente pode tornar-se uma narrativa porque o inefável está em seu cerne. Reencenações do trauma, quando episódios traumáticos não experienciados dominam o sujeito vividamente, podem retraumatizar, com seqüelas fisiológicas. Muitas vezes, o trauma só pode ser endereçado por meios não verbais e intervenções terapêuticas em crises têm de ser criadas de novo em resposta à pungência de momentos críticos. O trabalho então deve dirigir-se a estabilizar uma auto-imagem através de sua devolução especular estruturante a alguém despedaçado pelo inumano.

L., seu nascimento indesejado, submete-se a repetidos abortos ritualizados. A cada vez promete-se ser o último, e sente-se fraudulenta por não cumprir sua promessa. Parece-lhe ter sido outra pessoa que viveu todas suas crises, por não ter lembranças. Está grávida quando me procura, não tem filhos e seu marido exige que aborte. Obedece e o trauma a invade: é uma menina de 9 anos fugindo de seu agressor e tentando limpar a sujeira que seu assaltante dissera-lhe nela. L. nunca falara antes disto porque se sente culpada.

Quando a crise começou, eu não alcançava L. com palavras. Tentei conter seu terror pedindo-lhe que completasse linhas que tracei. Winnicott (23) me veio à idéia. Abraçando-a e fazendo-a beber leite, fui um tanto percebida e pude interromper, temporariamente, seu auto-aborto.

Durante minhas férias, o marido de L. abandona-a repentino, "cansado de viver com uma hemiplégica mental". Seus amigos e seu psicanalista, frisa, aconselharam-lhe a deixá-la, para o bem dela. Passa a viver com outra mulher.

L. abandonou-se com ele: tentava estar nele para se ver através dele; e para revitalizá-lo, numa tentativa de voltar à vida. Ser odiada era-lhe preferível a não haver ninguém, o que apenas repetia seu despedaçamento impessoal pelo trauma do passado. Por um tempo, impedi-me de um processo paralelo; temia que sua raiva se voltasse contra ela, por estar colada a seu marido, único meio de manter ou restaurar algum apego à vida. Outra decisão logo se fez necessária: o pai de L. responsabilizou-a por perder um excelente marido. Convidado a uma sessão (no intuito de neutralizar seus ataques aniquiladores à L. e de mudar sua transferência negativa à análise) , repetiu suas acusações. Intempestivamente expressei indignação contra o marido. Esta intervenção provocou em L. raiva contra mim, o que a protegeu de um auto-ataque. Voltou à vida através de uma briga comigo para defender seu marido, retomando uma interlocução: não estava mais nele se acusando.

Pacientes severamente perturbados freqüentemente precisam da confirmação de que alguém responde para deixarem colusões com agressores. Ferenczi (4) posicionou-se contra o reducionismo ao desejo e ao mundo interno. No entanto, considera-se que a raiva do paciente severamente perturbado contra seu agressor pode voltar-se contra o próprio sujeito - alienado no agressor - e não deve ser encorajada. Porém, quando expressei indignação contra seu marido, L. dirigiu sua raiva contra mim, e pudemos trabalhar com isto. Minha intervenção intempestiva foi também semente para sua posterior auto-estima, quando se permitiu indignar-se pelo descaso desumano de seu ex-marido. Há psicanalistas, não obstante, que aconselham a redibilinização temporária de envolvimentos destrutivos a fim de revitalizar o paciente ferido de morte (24). Penso, pelo contrário, que tal redibilinização envolveria o risco de se perder o paciente para o masoquismo destrutivo, e transmitiria a impressão de que aprovamos - ( poderia tal impressão jamais ser revertida?) - o abuso.

Pacientes graves não acreditam que alguém os ouvirá. Muitos jovens de hoje indicam por rituais mortíferos que também desesperam de interlocutores. Através do esgarçamento do tecido social cada vez mais segmentos da população estão caindo para fora. Benjamin (25) aconselha escovar a história a contra-pelo a fim de permitir aos que foram silenciados acesso a um passado petrificado de maneira a apressar o "...já é tempo da pedra consentir em florir", vislumbrado por Celan.

O objetivo da narrativa é de dissolver a dor e conduzi-la para o mar do esquecimento (Benjamin). Uma pedra que floresce é um silêncio que se endereça e um passado liberto de suas cadeias libera uma promessa para o futuro. Na cantiga de ninar de Lorca: "Este galapaguito no tiene mare/ lo parió una gitana lo echó a la calle./ Este niño chiquito no tiene cuna/ Su padre es carpentero/ y le hará una/ (26:662). Alguma solução para o terror através da construção de um mundo vulnerável que responde - uma cuna para uma criança tecida por vozes que tentam endereçar-se ao horror petrificado.

Então testemunhar com e pelo outro, com toda a vulnerabilidade que isto acarreta, talvez possa tornar-se "um sopro de cristal, tua testemunha inanulável." (27:219).

* Nota:
Publicado originalmente em International Forum of Psychoanalysis 7,
Scandinavian Univ. Press, 1998.

Edelyn Schweidson Kramer
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1) Lévinas E. Autrement qu' être ou au-delà de l'essence. The Hague: Martinus Nijhoff, 1974.
2) Schweidson E. The silenced language of abandoned Brazilian children. Rassegna Italiana di Linguistica Applicata 1995; 1-2: 51-96.
3) Benjamin W. The storyteller. In Arendt H., ed. Illuminations. New York: Schocken Books, 1969: 83-109.
4) Ferenczi S. Journal clinique. Paris: Payot, 1985.
5) Freud S. Beyond the pleasure principle (1920). London: Hogarth Press, 1962: SE 18: 3-64.
6) Celan P. Breathturn. Los Angeles: Sun & Moon Press, 1995.
7) Celan P. Bremen speech. In Felstiner, J. author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
8) Celan P. Winter. In Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
9) Adorno TW. Zur Dialektik des Engagements. Neue Rundschau 1962; 73/1: 103.
10) Felman S. Education and crisis. In: Felman S, Laub D, eds. Testimony. New York: Routledge, 1992: 1-56.
11) Celan P. ...plashes the fountain. In: Hamburger M, transl. Poems of Paul Celan. New York: Persea Books, 1972.
12) Celan P. Stretto. In: Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
13) Celan P. Nocturnally pursed... In: Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
14) Felstiner J. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
15) Celan P. The sluice. In: Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
16) Celan P. The meridian. In: Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
17) Celan P. Psalm. In: Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
18) Lévinas E. Éthique et infini: dialogues avec Philippe Nemo. Paris, Fayard, 1982.
19) Kafka F. Correspondance 1902-1924. Paris, Gallimard, 1965.
20) Celan P. Where the word. In Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
21) Celan P. Whichever stone you lift. In Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
22) Celan P. Chemical. In Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995.
23) Winnicott DW. Through paediatrics to psycho-analysis. New York: Basic Books, 1975.
24) Schneider M. La séduction traumatique. Psychanalistes: Revue du Collège de Psychanalistes 1992; 45: 35-46.
25) Benjamin W. Theses on the philosophy of history. In Arendt H, ed. Illuminations. New York: Schocken Books, 1969: 253-264.
26) Lorca FG. Federico Garcia Lorca: obras completas. Madrid: Aguilar, 1967.
27) Celan P. Bitten away. In Felstiner J, author and transl. Paul Celan: poet, survivor, jew. New Haven: Yale University Press, 1995