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O que está acontecendo na Áustria concerne especialmente os psicanalistas?
Tradução Mirian Giannella
Em fevereiro de 2000, conservadores formaram um governo com o FPÖ, partido que alia o ultraliberalismo, à preferência étnica e nostalgia do terceiro Reich. As sanções "simbólicas" tomadas de imediato pelo Conselho da Europa talvez tenham sido o primeiro ato político da comunidade européia, e foram tomadas tão rapidamente porque um partido de extrema direita pela primeira vez instalara-se no poder após a guerra em um país de língua alemã reputado mal desnazificado.
Tudo se passa como se o diabo tivesse subido em cena, quando os três sábios chegaram: souberam mostrar aos doze Estados que este governo vienense parece muito ao que aconteceu, ao que acontecia ou aconteceria também com eles. Para manter as sanções, seria preciso aceitar-se medido com os mesmo critérios aplicados à Áustria. E na precipitação então estas medidas foram suspensas, um ato tão simbólico quanto a sua instauração: cauciona pesadamente uma aliança que amanhã poderá se reproduzir em qualquer outro lugar. Sem criar um sistema legítimo de observação e vigilância do governo e do FPÖ, a Europa traiu "a outra Áustria", banalizando e legitimando a participação em um dos treze governos de um partido de extrema direita, xenófobo, fascista, que assume a herança do hitlerismo. Entre fevereiro e setembro, no entanto, Viena terá servido de espelho: o choque Haïder despertou a Europa. É o revelador de uma cultura comum.
Os psicanalistas são talvez cidadãos ordinários que têm suas opiniões, tomam partido ou ficam neutros. Mas é preciso também dizer que, se a psicanálise lhes ensinou o peso das palavras, da história e o preço da dívida simbólica, eles têm um dever específico para com quem os ensinou. Como esqueceriam a saída dramática de Viena? E não dispõem eles de um saber particular sobre a questão do pai e do modo como este manipula as hordas? O espelho austríaco mostra um problema que nenhuma equação política resolverá. Pois enfim, a psicanálise traz um ponto de vista insubstituível sobre a xenofobia e o anti-semitismo, que não se reduz absolutamente aos problemas políticos e que são incompre-ensíveis sem a dimensão do inconsciente.
Em julho de 2000, antes do fim das sanções, quatro associações psicanalíticas entraram em contato com vistas à organização em Viena, na primavera de 2001, um colóquio sobre o tema: "Freud contra o nazismo" (Apep, Freud-Lacan-Gesellschaft Berlin - Sigmund Freud - Gesellschaft - Assoziation für die Freudsche psychoanalysis com o apoio do Instituto Francês de Viena). Após o fim das sanções, seria conveniente encontrar formas que permitam aos psicanalistas envolvidos se fazerem ouvir, por exemplo, antes da próxima reunião da cúpula européia de Nice.
Gérard Pommier
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